domingo, 20 de dezembro de 2009

O Sequestro do Ônibus 174 e o Tráfico Financiando a Política

Por Felipe Kuhn Braun

Muitos brasileiros costumam criticar nosso cinema nacional. Dizem que os filmes em geral são violentos, apelativos, exagerados. Criticados ou não, esses filmes fizeram sucesso no exterior ganhando vários prêmios e sendo divulgados no primeiro mundo. Muitos deles como Cidade de Deus e Tropa de Elite exploram as mazelas da sociedade brasileira, tais como a miséria, o tráfico de drogas, a violência e o esfacelamento da sociedade civil organizada, abrindo assim, espaço para o Estado Paralelo. Talvez esses filmes tenham um forte apelo emocional, porém, retratam graves problemas de nossa sociedade. Entre um cinema norte-americano que lucra com estórias tais como Batman, Homem Aranha e que denigrem a imagem de outras culturas tais como Borat e Turistas e que retratam seu país como primeiro mundo e sua cultura como superiora; prefiro nosso cinema, realista, que nos traz com esses filmes, uma análise crítica de nossa sociedade.

Um filme seguindo uma linha similar ao Cidade de Deus e Tropa de Elite é o Última Parada, de Bruno Barreto. O filme retrata a história verídica do carioca Sandro, o rapaz que entrou armado em um ônibus no Rio de Janeiro, acabou sendo cercado pela polícia, matou uma moça grávida e foi morto pelos policiais. A história e o filme foram feitos focando a vida de Sandro, um dos tantos personagens envolvidos na história. Sandro nasceu na favela, não sabia quem era seu pai, viu sua mãe ser esfaqueada e morta. Ficou a cuidado de seus tios e carecia de amor materno.

Fugiu da casa dos tios e passou a viver na praça da candelária no centro do Rio. Lá conheceu outras crianças e jovens que assim como ele, sem perspectivas cheiravam cola e viviam nos arredores da praça. Sobreviveu a chacina da Candelária ocorrida em 1993 e passou por uns dias em uma ONG para ajuda aos menores sobreviventes da chacina. Chamado pelos mais próximos de Ale, Sandro fugiu do abrigo da ONG, roubou dinheiro, comprou drogas e foi preso. Depois de preso escapou do presídio e passou a morar com colega um de cela, também fugitivo e juntos ganhavam a vida através de assaltos.

Mais tarde quando Sandro foi expulso da casa de seu amigo, continuou a morar nas ruas e no dia 12 de junho de 2000 entrou armado no ônibus 174. A polícia foi avisada por um morador que no ônibus se encontrava um homem armado e logo parou o veículo. Alguns saíram, mas Sandro ficou no interior com 10 pessoas. A rua foi bloqueada, a imprensa deu cobertura ao acontecimento e a polícia precisou de reforços e muita negociação com Sandro. Depois de mais de quatro horas de negociações Sandro resolveu sair com a professora Geísa Firmo Gonçalves como escudo. Quando ele desceu o policial atirou nele, mas o tiro pegou na moça e ele deu três tiros em Geísa. A moça faleceu e Sandro morreu asfixiado pelos policiais dentro da viatura.

O “sequestro” do ônibus 174 foi mais um triste acontecimento na história brasileira. A violência cada vez mais crescente em nosso país, não se resolve com um referendo tentando desarmar a população como tivemos em 2005 ou com a legalização da maconha como propõem alguns políticos e “intelectuais” brasileiros. Essas são soluções hipócritas, muitos desses políticos que as defenderam se apegam a essas medidas, pois, sabem que falharam em áreas muito mais relevantes para o combate da criminalidade como a melhoria na seguridade social, entre elas, o acesso a uma educação de qualidade e o controle de natalidade.

E mais, não podemos fechar os olhos para um dos maiores problemas, motivo pelo qual muitos políticos são complacentes ou cúmplices dos criminosos. O tráfico financiando campanhas políticas. Esse tema é polêmico, uma revista de grande circulação nacional apontou várias das causas para o aumento do tráfico e o estado falimentar no combate ao crime, porém deixou esse tema de lado, apenas a revista VEJA tocou nesse assunto. Há relatos e investigações feitas em grandes cidades gaúchas que apontam a presença do tráfico dentro de prefeituras e câmeras de vereadores, ou seja, em alguns anos teremos problemas da mesma dimensão dos cariocas.

Uma pergunta que intriga é, porque a sociedade silencia diante desses fatos? Uma das respostas é bem clara, pois, alguns desses que silenciam lucram junto com o tráfico, muitos sequer tem acesso a essas investigações. E muitos daqueles que têm poderosas informações, não as divulgam por temer represálias.

Liberdade de imprensa ameaçada também no primeiro mundo

Por Felipe Kuhn Braun

Costuma-se ouvir os políticos reclamando da imprensa. Realmente o quarto poder joga duro muitas vezes, porém, o que seria da sociedade sem um trabalho de divulgação crítica? A maior parte dos acontecimentos ilícitos envolvendo políticos não vêm a tona, mas, graças a uma imprensa mais livre nos dias de hoje que soubemos mais sobre o mensalão, a fraude das ambulâncias, os atos secretos no senado ou a fraude do DETRAN aqui no Estado. Se faltam leis e homens sérios para punir esses bandidos de colarinho branco, isso é outra conversa, mas graças a imprensa que tomamos conhecimento desses casos em que o principal lesado é o contribuinte e o cidadão de bem.

Costumamos criticar nosso país e elogiar tudo que vêm de fora. Estados Unidos, França, Itália, quantos elogios e quanta vontade de muitos em conseguir cidadania, virar “cidadão europeu”, ser aceito no primeiro mundo e quem sabe, emigrar para lá em busca de melhores condições. Engana-se quem acredita fielmente apenas nos pontos positivos desses países. Com a questão da imprensa a mesma coisa, a tendência nossa é pensar que lá tudo funciona tão bem que o jornalista não precisa se preocupar com segurança, divulgação de informações e com a mordaça a imprensa.

No ano passado a ONG Repórteres Sem Fronteiras, divulgou um relatório sobre a liberdade de imprensa na União Européia. As informações são impressionantes, também no primeiro mundo repórteres são ameaçados e intimidados. Na França os repórteres que cobriram as manifestações populares de três anos atrás, foram expostos a represálias físicas, entre os feridos na época estavam jornalistas e fotógrafos. Na Itália a situação complica ainda mais, dezenas de repórteres têm que trabalhar sob proteção policial, ameaçados pela máfia que domina cidades e regiões pelo país.

Não podemos esquecer de Roberto Saviano, publicou o Best seller Gomorra, uma série de investigações sobre a máfia italiana que controla desde as importações de Nápoles até cadeiras no parlamento. Jornalista renomado e carta marcada entre os mafiosos. Saviano desde a publicação de seu livro vive sob proteção policial e sigilo absoluto. Na Espanha a mídia é intimidada há décadas pelo grupo revolucionário ETA que inclusive matou um jornalista espanhol e deixou outro ferido no ano de 2000. A Alemanha não deixa por menos, desde os atentados de onze de setembro e o apoio militar aos norte-americanos no Afeganistão o governo cada vez mais restringe a proteção aos informantes e os segredos da redação, como relata a emissora de comunicação Deutsche Welle.

Muitos países pouco respeitam a liberdade de expressão, entre eles Cuba e Israel, parecem ser tão opostos, mas são tão próximos no que diz respeito à eliminação de notícias negativas as suas atuações. Fidel Castro e o premiê israelense Netanyahu nos assustam com suas declarações. Fidel andava dizendo que a gripe A aumentava em Cuba devido à entrada de turistas norte-americanos na ilha e em suas últimas declarações dizia que Obama foi cínico em receber o premio Nobel da Paz. Fidel podia falar horas e horas sobre o que quisesse na TV estatal cubana, porém o povo só podia se manifestar caso fosse a favor de sua administração. O premiê israelense Netanyahu “exige” que o governo sueco condene uma reportagem publicada no jornal Aftonblades da Suécia, sobre um possível tráfico de órgãos de palestinos, feito por soldados israelenses.

Quem deu o grande exemplo foi Carl Bildt, ministro das relações exteriores da Suécia que declarou que em seu país a imprensa é livre para veicular o que deseja. Que embora não haja provas do texto veiculado no Aftonblades, a responsabilidade não é do governo e sim do jornal que publicou o texto. Ponto para a Suécia em um mundo onde a liberdade de imprensa está cada vez mais ameaçada.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Felipe Kuhn Braun - Histórico

Felipe Kuhn Braun nasceu em Novo Hamburgo a 10.07.1987. Com sete anos mudou-se com sua família para Farroupilha onde concluiu o ensino fundamental e médio no colégio Nossa Senhora de Lourdes. Com 14 anos em 2001, começou a pesquisar sobre a genealogia de seus antepassados, pesquisa diversas famílias, mas fez
trabalhos maiores sobre as famílias, Heck, Kuhn, Jaeger, Roehe, Winter, Mombach, Christ, Moraes e Braun. Em 2005 começou a estudar Direito na Feevale em Novo Hamburgo onde também estudou alemão, francês, inglês e italiano. Em 2007 completou seu estágio de Direito trabalhando no INSS de Novo Hamburgo e entrando naquele ano para o curso de Jornalismo da Feevale.


No ano de 2007 foi para a Alemanha em busca da história de sua família visitando o Hunsrück, Kirchberg, Cochem, Mittelstrimmig, Liesenich, Bacharach, Mastershausen, Dickenschied, Womrath, Bacharach, Hasborn e Theley em Saarland. Ainda em 2007 Felipe foi eleito representantes dos 15.000 acadêmicos da Feevale. Em 2008 trabalhou na AGECOM, agência de comunicação da Feevale onde completou seu estágio de Jornalismo. Foi reeleito representante dos alunos na Feevale para o mandato de 2009 e reeleito para o mandato de 2010.


A partir de 2007 limitou suas pesquisas a fotografias antigas que retratam os costumes e hábitos culturais dos imigrantes alemães e de seus descendentes no século XIX e no começo do século XX. Em oito anos formou um arquivo de 8.000 fotografias antigas. Os municípios visitados para pesquisas foram Nova Petrópolis, Feliz, Santa Maria do Herval, Morro Reuter, Picada Café, Dois Irmãos, Bom Princípio, São Sebastião do Caí, São José do Hortêncio, Salvador do Sul, Linha Nova, São Pedro da Serra, Tupandi, Novo Hamburgo, São Leopoldo, entre outros.


Desde 2006 participa como colaborador da coluna 1900 e Antigamente do Jornal NH de Novo Hamburgo, enviando fotos com suas histórias. Somente o Jornal NH publicou mais de 800 em quatro anos. Felipe também já teve material publicado na Zero Hora, no jornal Rhein-Pfalz da Alemanha e na revista Skt. Paulusblatt de Nova Petrópolis, publicada em língua alemã. Atualmente possui um arquivo de 300.000 nomes de descendentes dos imigrantes alemães que vieram para o sul do Brasil. Em janeiro de 2010 publicou seu primeiro livro, entitulado "História da Imigração Alemã no Sul do Brasil". Impresso pela Editora Amstad de Nova Petrópolis, RS.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Erlebnitz von Franz Adolph Jaeger /por Felipe Kuhn Braun/ Zweite Teil

VII. Seereise nach Brasilien

Der Herr hatte andere Absichten mit mir, indem er meine Schritte hierher nach Brasilien lenkte, denn kaum in Hamburg angekommen und mich im Gasthause, der Stadt Bremen, meiner Herberge, niedergelassen, ein Glas Wein vor mir, betraten 3 junge Leute das Lokal und unterhielten sich nicht weit von mir ziemlich laut, so dass ich auf einmal deutlich die Worte vernahm: "Sie nehmen nur noch Artilerie an!" Bescheidend mich nährend, bat ich um Aufschluss obiger Worte und da vernahm ich, dass schon längere Zeit ein brasilianisches Werbebüreau hier errichtet sei, um 2.000 Soldaten für den Krieg Brasilien gegen Argentinien anzuwerben. Die Infanterie war schon eingeschifft und wenn 4 Compagnien Artillerie vollzählich wären, nebst einigen Pionieren, so würden auch diese die Reise antreten. Die Dienstzeit solle 4 Jahre wären und nachher jeder, der in Brasilien bleiben wolle, 22.500 Brassen gutes Pflanzland erhalten, oder aber freie Rückreise nach Europa und 80 Milreis Gratifikation bekommen solle. Da jeder in Hamburg 50 Thaler Handgeld erhielt, so liess ich mich noch selbigen Tag als Artillerieunteroffizier annehmen und bezog das Militärquartier.

Neue, frohe Hoffnungen belebten mich, über-haupt, als nach einigen Tagen unsere Zahl voll war und das Schiff "Heinrich", ein Dreimaster, aufnahm und am 13ten Juni 1851, am Feste des hl. Antonius von Padua, der Nortsee zusteuerte. Adieu Deutschland! Adieu Europa! Auf unserem Schiffe befanden sich auch Herr Carlos Jansen, sowie Carl von Koseritz, auch Herr Leutnant Carl Gaerther. An Kuxhafen vorüber, durchzogen wir bei guter Prise die Nortsee, passierten bei gutem Wetter den englischen Kanal und Europa entschwand nun unsern Blicken, bis auf hoher See die Insel Madeira sichtbar wurde, die wir aber links liegen liessen. Viele bekamen die Seekrankheit längere oder kürzere Zeit, aber an mir, der ich immer mich auf dem Verdeck aufhielte, erreichte sie weiter nichts, als dass ich 2 mal erbrechen musste, jedoch nach 10 Minuten war ich wieder gesund.

Die Soldaten vertrieben sich die Zeit theils mit Kartenspiel, einige erzählten, andere sangen oder lesen oder betrachteten den Lauf des Schiffes. Eines Tages harpunierte unser erster Steuermann einen gewaltigen Delphin, dessen Fleisch aber fast ungeniessbar war; sein Leib hatte die Dicke eines Pferdes.

VIII. Aufstand im Schiffe

Bereits hatten wir die Mittellinie, den Aequator, passiert und näherten uns, bei starkem Geschwinde, sehr langsam der Kuste Brasiliens, als uns auf dem Schiffe eine Gefahr drohte, die der böse Feind heraufbeschwor und vielen das Leben kosten konnte.

Wie man sich leicht denken kann, waren unter uns nicht alle geschulte und gediente, pflichttreue Soldaten, sondern such einige heissblütige politische Flüchtlinge, die wahrscheinlich in Ungarn, Baden oder Sachsen, auch in Berlin der Regierung mit der Waffe in der Hand gegenüber gestanden hatten und sich in Deutschland nicht mehr sicher fühlten, die aber dem Schnapstrinken sehr huldigten und disse hatten, unter Führung eines Rheinländers, namens Kaspar Rübel, in aller Stille den Plan gefasst, sich nachts des Schiffes zu bemächtigen, den Kapitain, sowie Herrn Hauptmann Brinkmann und unsern Herrn Leutnant Karl Gaertner, sowie alle, die sich ihren Absichten entgegen setzen würden, uber Bord zu werfen und das Schiff nach Argentinien zu steuern, um unter dem Diktador Rosas gegen Brasilien zu kämpfen. Aber Gottes Auge wachte damit der teuflische Plan misslang, denn in ihrer grenzenlosen Begierde nach geistigen Geträken hatten sie nachmittags im untern Raum des Schiffes einen Lattenverschlag entdeckt, worin der Schiffskapitain seinen Vorrath an Wein und Bier, ebenso andern Bedürfnissen, als Kaffe, Zucker u.s.w. aufbewahrte.

Wie Tiger fielen sie, nach Beseitigung einiger Latten, darüber her und so fingen sie zu saufen und zu zechen an, bis die Gemüter ganz erhitzt waren. Mit einem scharfen Schiffsbeil in der Hand, halb trunken, stürzte Kaspar Rübel mit seinen Mitverschworenen die Treppe herauf, auf Hauptmann Brinkmann ein, den der Lärm aus der Kajüte gelockt hatte, um ihm den Kopf zu spalten. Aber ebenso flink griff ich und Korporal Georg Giessler ihm in die Arme und verhinderten das Attentat; er wurde überwältigt, vorläufig gefesselt und ins Sichere, nämlich in Gewahrsam gebracht und noch selbigen Tages durch das Kriegsgericht zum Tode durch die Kugel verurteilt.

Die übrigen Verschworenen zogen sich, als der Putsch missglückt war, zurück und entgingen der Strafe. Auch waren wir selbst froh, dass wir gegen diese Verführten keine Gerechtigkeit zu walten brauchten. Nachträglich musste ich bemerken dass sich auf unserm Schiffe vier Soldaten befanden, wovon der erste - Frühling, der 2te - Sommer, der 3te - Herbst und der 4te - Winter hiess, die sich mit einander sehr gut vertrugen.

IX. Landung in Rio de Janeiro

Langsam näherten wir uns Brasilien und endlich, nach einer Seereise von 9 Wochen, langten wir im Hafen von Rio de Janeiro am 24ten August an. Bei unserer Ankunft bat uns Herr Hauptmann Brinkmann, dem verurteilten Kaspar Rübel die Todesstrafe zu schenken, womit wir auch alle einverstanden waren. Drei Monate garnisonierten wir in Rio, und zwar in der Fortaleza Praia Vermelha, am Fusse des Zuckerhutes gelegen. Und als wir Besitz vom Quartel nahmen, wimmelte es nur so von Flöhen, doch durch ununterbrochenes Spritzen mit kaltem Wasser verschwanden sie ganz und entzogen uns ihre fernere Aufmerksamkeit.

X. Sturm auf dem Meere – Rettung des Schiffes

Endlich bestiegen wir Ende November einen Kriegsdampfer, um nach Rio Grande gebracht zu werden; doch sollten wir soleicht und mit heiler Haut nicht hinkommen. Als wir schon den Leuchturm von São José do Rio Grande do Norte in Sicht hatten, brauste ein fürchterlicher Sturm uns entgegen, der uns wieder ins offene Meer schleuderte. Turmhoch gingen die Wogen, welche alles vom Verdeck wegschwemmten, als Schaafe und Truthüner, Kisten und Körbe, und das Schiff viel Wasser schöpfte. Alles fluchtete in die Schiffsräume und in die Kajüten, wo das eingedrungene Wasser schon seinen Fuss hoch stand.

Ich hatte das kalte Fieber, sowie die Wasserpocken und befand mich noch auf dem Versteck am warmen Schornstein und hielt mich da fest. Da kletterte ein Artillerist, namens Kuhlmann auf den Räderkasten, um seinen Tornister zu bergen, als eine grosse Welle ihn über Bord ins Meer riss; es war unmöglich ihn zu retten. Jetzt wurde es mir doch ein wenig zu unheimlich auf dem Verdeake und stieg hinunter in die Kajüte.
Kurze Zeit darauf stürste ein Marineoffizier mit dem Schreckensrufe die Treppe herunter: "Wir sind alle verloren (Nous sommes tudes perdu!) in Folge dessen eine Dame in Ohnmacht fiel.

Das Schiff wurde nähmlich durch das Zerschmettern des Steuerrades steuerlos dem Wogenanprall Preis gegeben, weil eine Welle das Boot des Kapitäns losgerissen und auf das Steuerrad geworfen hatte. Mit 8 Seilen wurde ein Versuch gemacht, das Steuer zu lenken, welches auch vollkommen gelang, indem je 2 Soldaten nach den 4 Himmelsrichtungen mit 2 Stricken, die am zerbrochenen Steuerrade befestigt wurden, angestellt und auf das Commando des Steuermannes diejenigen anziehen mussten, deren Richtung er laut angab; aller halben Stunden wurden sie durch andere 8 Soldaten abgelöst. Da das Schiff ziemlich geschöpft hatte, so gingen andere 8 Mann aller halben Stunden an die Schiffspumpen und durch grosse Anstrengungen der deutschen Soldaten wurde das Schiff dem unausbleiblichen Untergange gerettet, was auch später in allen brasilianischen Blättern rühmlichst anerkannt wurde. Mit knapper Not liefen wir wieder in den Hafen von Desterro ein, woselbst der Kriegsdampfer repariert und erst nach 8 Tagen seine Reise nach Rio Grande fortsetzen konnte.

XI. Im Militärshopital in Desterro

Da ich noch krank war, blieb ich mit noch 5 Kameraden im Militärhospital zurück, wo wir ausge-zeichnet verpflegt und behandelt wurden. Nach Verlauf von 8 Tagen durfte ich, nachdem der Arzt sich entfernt hatte, spazierengehen und die betreffende Schildwache vor dem Hospital, ein Nationalgardist, hielt mich für einen Hauptmann, der goldenen Tressen wegen an beiden Armaufschlägen, und präsentierte das Gewehr, vor mir. Damals kannte ich noch keine 12 brasilianische Wörter, musste sie daher in ihrem Irrthum belassen. Zu einem Landmann, einem Drechsler aus meiner Vaterstadt wendete ich jedesmal meine Schritte, mit dem ich mich einige Stunden unterhielt, aber erst nach 6 Wochen, als wir 6 wieder hergestellt waren, konnten wir weiter reisen.

XII. Aufenhalt in Rio Grande

Unsere Batterien, namlich die 3te und 4te lagen noch in Rio Grande in Garnison, während die erste und zweite mit unsrer Infanterie, sowie der brasilianischen Armee sich auf dem Marsche nach Argentinien befand. Wir bezogen die Wachen, putzten die Waffen und durchstreiften die damals sandigen Strassen und langweilten uns auch manchmal, als eines Tages einer unserer Unteroffiziere, als er hörte, dass ich Dratharbeiter sei, einen Vogelbauer bei mir bestellte, der dann die Ursache wurde, dass ich Bestellungen von Inhabern der Eisenlojen, sowie auch von andem Leuten erhielt und genöthigt war, um Urlaub beim Höchstkommandierenden zu bitten, wass ich auch gern erhielt. Ich miethete mir demzufolge ein Zimmer bei einem deutschen Tischler, der meine Vogelkasten anfertigte, hielt mir einen Verkäufer in der Person eines Kanoniers, der den Spitznamen hatte: "Kieler Oberjäger", der meine Arbeiten nicht allein in den Strassen und Häusern, sondern auch auf den Schiffen gut verkaufte.

XIII. Nach dem Kriege – Zukunft in Porto Alegre

Als endlich der Krieg durch Besiegung Rosa's zu Ende ging und die Truppen heimkehrten, wobei die Infanterie unter dem Comando des Majors Fegestein nach Rio Pardo in Garnison zu liegen kam, erhielten schon diejenigen die es wünschten, ihren Abschied. Bei uns Artilleristen hatte zwar diese Vergünstigung noch keine Berücksichtigung gefunden, jedoch gingen viele, vorzüglich Handwerker einfach fort, was von der brasilianischen Regierung auch stillschweigend geduldet wurde, weil diese nämlich auf jede Gratifikation verzichteten.

Ich befand mich in Rio Grande immer auf Urlaub und verdiente ziemlich viel Geld. Als unsere Batterie nach São Gabriel verlegt wurde, blieben wenigstens die Hälfte von uns und auch ich, in Porto Alegre zurück. Zwei Monate arbeitete ich auf Hamburger Berg als Knecht, dann zog ich wieder nach Porto Alegre, betrieb mein Geschäft mit gutem Fortgang, heirathete 1853 ein braves deutsches Mäddchen, Namens Elisabeth Beck, die mich herzlich liebte, leider aber ein Jahr darauf im Kindbett starb. 1855 heirathete ich dann meine jetzige Frau, Katharina Schuck, die mich jedenfalls überleben wird, da sie 10 Jahre junger ist als ich und mit der ich 1905 fünfzig Jahre verheirathet sein werde.

Als die asiatische Cholera nach Porto Alegre und São Leopoldo kam, flüchteten sich viele Familien nach Hamburger Berg und dem Urwald, wir aber hielten stand, besuchten Kranke, zuletzt half ich noch einen, an der Pest verstorbenen deutschen Caxeiro nach dem Hospital (Santa Casa) tragen, aber andern Tages legte ich mich auch hin. dem sicheren Tode schon nahe, erhielt ich durch eine Verwandte, deren Mann auch an der Cholera darniederlag, besonders erprobt als ausgezeichnete Heilmittel und wurde daraufhin von Stunde zu Stunde besser, konnte nach einigen Tagen konte ich das Bett verlassen und nach 4 Wochen auch wieder arbeiten.

Täglich starben in jenen Tagen, als ich krank war, gegen 160 Personen. Im Anfange wurden die Leichen noch eingesegnet und die Todenglocken geläutet, aber wie schnell unterblieb dies, denn die Todten zuletzt auf dem Kirchhofe unbeerdigt liegen blieben. So dass Ende Januar 1856 1800 Leichen dort der Bestattung harrten. Da bat der damalige edle Staatspräsident Sinimbú die deutschen Pioniere, die noch in einem alten Quartier der Entlassung harrten, dass sie für hohen Sold ein Zeltlager beim Kirchhofe beziehen möchten, um die Todten zu begraben. (auf dem Kirchhof von Porto Alegre). Cachaça wurde ihnen so viel gespendet, wie sie nur wollten und nach einigen Tagen lagen die Leichen in zwei langen Gräben gebettet und mit Kalk zugeschüttet. In Zeit von 7 bis 8 Wochen verlor allein die Stadt Porto Alegre 5.000 Bewohner; auch in São Leopoldo forderte diese Geisel viele Opfer.

XIV. Zeitlicher Umzug nach Feliz

Hamburgerberg beherbergte damals viele von der Cholera geflüchtete Familien. In dieser langen Zeit wehte in der Stadt Porto Alegre kein Lüftchen, sondern eine wahre Grabesstille lag über ihr. Die Geschäftshäuser waren geschlossen und nur ein deutscher Bäcker, namens August Nitschke buck Brod.

Gott fügte es, dass ein Onkel meiner Frau uns um Ostern besuchte, der in der Pikade Feliz ein Geschäftshaus besass und uns schliesslich beredete, dahin zu ziehen. Nach der Geburt meines ältesten Sohnes, zogen wir gleich nach Pfingsten 1856 dahin in den Urwald. Die Bewohner dieser Pikade waren grossten theils von der Mosel, dem Hunsrück, von Tholei und Thölei und bei Trier und Sankt Wendel wohnhaft gewesen und zeigten sich alle glaubenstreue, und fromme Katholiken, was mich Protestanten oft imponierte, denn ich glaubte damals leider noch, dass wir die Gescheidesten wären. Aber nach und nach, mit besonders guten und auch gebildeten katholischen Familien näher bekannt, erkannte ich gar bald, dass ich auf dem Irrwege mich befand. Wenn ein katholischer Missionär durch die Pikade ging oder ritt, so grüsste man ihn erfurchtsvoll mit dem herrlichen Grusse: "Gelobt sey Jesus Christus" und die freundliche Antwort konnte nicht anders lauten, als: "in Ewigkeit Amen"!, was auch früher, als der berühmte protestantische Dichter Klopstock auf seiner Reise durch Schwaben erlebte, zugeben musste.

Ritt ich manchmal abends etwas nach "Ave Maria" durch die Schneiss, so konnte man in allen katholischen Häusern die frommen Abend- und Tischgebethe hören, was mich sehr rührte, während in protestantischen Familien alles still blieb.
Beinahe 3 Jahre befand ich mich in der Feliz, pflanzte Milho, Bohnen und Korn auf ziemlich mageres Land, da wurde ich von einem, meiner früheren Kunden eingeladen, ihm eine grosse Partie Dratharbeiten zu machen. Frohen Herzens, die Familie zurücklassend, reiste ich nach Porto Alegre und quartierte mich bei einem alten Bekannten namens Carl N., ein Brummer. Er war zwar katholisch, praktizierte seine Religion aber nicht, sondern war mit ganz liberalen Ideen angehaucht. Einige Tage vor meiner Ankunft war ich etwas leidend, konnte dieserhalb nicht arbeiten, hätte aber gerne eine Lektüre von ihm geliehen, aber leider besass er keine dergleichen, sondern nur eine Broschüre, die ihm in Bremen ein Ordensmann schenkte, als er in Begriffe war, sich auf's Auswanderungsschiff zu begeben. Dieses Heftchen bewies, dass die heilige, katholische Religion die allein seligmachende sei.

Gib' nur her, sagte ich, ich wi11 es lesen, trotzdem ich Protestant bin. Bis zum Abende hatte ich es 3 mal mit Bedacht durchgelesen und als ich es ihm wieder gab, war mein Entschluss gefasst, katholisch zu werden, das heisst: "In den Schoos meiner guten Mutter, der heiligen katholischen Kirche zurückzukehren", von der mich Luther in meinen Vorfahren im 16ten Jahrhunderte losgerissen hatte. Zwar legte der böse Feind meinem Vorhaben anfangs Schwierigkeiten in den Weg, aber mit Gottes gnädigen Beistande überwand ich sie und legte endlich 1859 am Schutzfeste des heiligen Joseph in der Kapelle zum heiligen Ignatius in der Feliz das katholische Glaubensbekenntnis in die Hände des würdigen Paters Michael Kellner ab und empfing auch am nämlichen Tage die heiligen Sacramente.

XV.Endgültiger Wohnsitz in Porto Alegre

Ich will nicht von den vielen Gunstbezeugungen erwähnen, die der Herr mich nach diesem Schritte verkosten liess; nichts von der Freude und dem innern Frieden, den meine Seele genoss; ich kann nur sagen, dass ich in mir das Bewustsein hatte, dass Gottes Gnade mit mir war, dass er mich als sein Kind angenommen hatte. Nach einigen Jahren eröffnete ich in meinem eigenen Hause eine Schule, da die nächste 2 Stunden entfernt war und suchte so einem schreienden Bedürfniss abzuhelfen, freilich konnte man mit dem monatlichem Schulgeld von 500 Reis nicht bestehen, doch hielt ich einige Jahre aus.

Im Jahre 1867 aber zog ich mit meiner Frau und 6 Kindern wieder nach Porto Alegre, woselbst ich mein gutes Auskommen fand. Meine zwei Töchter besuchten die Klosterschule der Marienschwestern und meine Söhne eine katholische Schule, bis alle 6, später, ein´s nach dem andern, in der dortigen Normalschule, um das Lehrfach gründlich zu studieren und auf diese Art nach bestandenem Examen eine Staatsanstellung zu erhalten, welches Ziel sie auch erlangt haben, bis auf die jüngste Tochter, die nach glänzend bestandenem Examen, anstat einen Lehrstuhl zu requerieren, der Welt gänzlich entsagte und im Kloster der Schwestern zum hl. Unbefleckten Herzen Marieens den Schleier nahm. Sie ist bereits Oberin in Lajeado und Directorin der Schule, welche unter dem Schutze der heiligen Anna gestellt und stark besucht wird und arbeitet mit 8 Schwestern an der Erziehung und Unterichte der Kinder segensreich.

Am Schlusse muss ich noch erwähnen, dass ich im Jahre 1884, den 17ten September, am Feste der 5 Wundmahle des hl. Franziskus von Asissi als Bruder in den IIten Orden der Busse aufgenommen worden bin und heute demselben bereits 16 Jahre angehöre.

Erlebnitz von Franz Adolph Jaeger /por Felipe Kuhn Braun

Segue abaixo a biografia de Franz Adolph Jaeger em alemão, foi escrita por ele em 1900 e traduzida do alemão gótico para o gramatical por seu bisneto Pe. Odilon Jaeger.

Hier unter lasse ich die Selbstbiographie von meinem Urururgrossvater, der Auswanderer aus Meissen (Sachsen), Franz Adolph Jaeger. Er schrieb in 1900 auf Gotischdeutsch und ihre Urenkel, Priester Odilon Jaeger S.J. +, hat die Biographie übersetzt. Es ist sehr Interessant die Geschichte von Franz Adolph Jaeger.

Felipe Kuhn Braun.

ERLEBNITZ
von
FRANZ ADOLPH JAEGER
1 8 2 6 bis 1 9 0 0
(selbstbiographie)
[SACHSEN – DEUTSCHLAND - BOM PRINCÍPIO - BRASILIEN]

I. Kinderheit und Jugend

Am 3ten Januar 1826 erblickte ich in der ehemaligen Bischofsstadt Meissen das Licht der Welt. Mein Veter, daselbst im Steuerfach angestellt, sorgte, so gut, wie meine liebe Mutter, für guten Schulunterricht und regelmässige Besuchung des protestantischen Gottesdienstes. Mehermals und zuletzt nach Plauen im Voig-tlande als Bezirkssteuereinnehmer versetzt, besuchte ich bis zu meiner Confirmation das dortige Gymnasium; kurz vorher starb meine Mutter. Unter 13 Geschwistern war ich das 7te und sollte die Kaufmannschaft erlernen, da sich aber keine passende Stelle fand, so wählte ich die Nadlerprofission, die auch nebenbei Bandeltreiben und kam zur Erlernung dieses Handwerks nach Altenburg.

Nach Ablauf von vier Jahren, wurde ich Geselle und von Reiselust erfüllt, die Welt zu sehen, zog ich, den Staubmantel mit einem breiten gestickten Gurt befestigt, munter und voll froher Hoffnungen aus dem Vaterhaus in die Fremde. In Neustadt, einem kleinen Städtchen fand ich Arbeit, doch war der Ort sehr unbedeutend, deshalb ich weiterzog und in Weissenfels an der Saale in Arbeit trat.

Nach 16 Wochen hatte der Meister keine Arbeit mehr, deswegen ging ich nach Halle, wo ich Beschäftigung fand, doch, da, es schon Winter war, so hörte auch hier die Arbeit auf. Entschlossen ging ich direct nach Berlin, wo ich eingestellt wurde und so lange dort blieb, bis mir eine gute Stelle in Altstrehlitz im Mecklenburgischen angeboten wurde.

Später blieb ich einige Zeit in Schwerin, doch im Sommer reiste ich nach Hamburg, wo ich die Verheerungen theiweise noch sah, die zwei Jahre vorher ein grosser Brand angerichtet hatte, jedoch nicht hier, sondern einige Tage später fand ich in Kiel an der Ostsee Arbeit, woselbst ich etwas plattdeutsch erlernte und 11 Wochen dort blieb. Heimweh führte mich wieder von dort ins Vaterhaus, um nach 14 tägigen Aufenthalte, mich in Baiern ein wenig umzusehen, wobei ich Erlangen, Kulmbach und Bamberg sah und zuletzt in Regensburg einen Monat blieb. Von dort nach Nürenberg meine Schritte lenkend, näherte ich mich der Stadt Koburg, woselbst ich in Geselschaft eines Führmanns, den Tornister auf dem Wagen Schleiz zog.

II. Militärleben

Auf der Reise dahin fiel es mir ein, dass ich mich in 6 Monaten zur Rekrutenaushebung stellen müsse und da ich von Jugend aus Freude am Militärleben hatte, so entschloss ich mich, mit Bewilligung meines Vaters, als Freiwilliger bei der Fussartillerie einzutreten; deshalb bat ich von Schleiz aus brieflich um dessen Erlaubnis, Welche er mir auch baldigst schriftlich nach Meissen zu meiner Tante schickte, wie ich es nämlich so erbeten hatte, da ich dorthin zu reisen, ir Begriffe stand. Sie war auch schon pr. Post angekommen und so meldete ich mich andren Tages in Dresden beim Regimentskomandanten der Artillerie und wurde der 9ten Compagnie einverleibt; selbigen Abend noch besuchte ich meinen ältesten Bruder Eduard, der zu Ganzlist im Finanzministerium war, in Uniform mit blankgeputztem Seitengewehr, aber leider ohne Schnurrbart. Des andern Jahres avancirte ich zum Bombardier (Oberkanonier) und als 1849 Deutschland Hülfstruppen nach Holstein sandte, stellte auch mein Vaterland 6 Tausend Mann an Reiterei, Artillerie und Infanterie. Unser Regiment gab eine 6 und eine 12 Pfünder Batterie und obwohl meine Compagnie nicht mit ins Feld zog, so wurde ich doch auf mein Ersuchen zur mobilen 12 pfünder Batterie versetzt und wurde sogleich mit noch einem Bombardier und einem Feuerwerfer derselben per Eisenbahn vorausgeschickt, und in Berlin, Hamburg und Rendsburg als Fourierschütz oder Quartiermacher die Quartierbillette zu besorgen. Von letztgenannter Festung Rendsburg marschierten wir dann durch Holstein nach Schleswig. Im Sundewitt bezogen wir im Pfarrdorfe Satrunp Quartiere, bis wir eines Nachts durch reitende Ordenanzen der Befehl enhielten, in aller Stille gegen Düppel aufzubrechen und halbe Stunde vorher im Dorfe Rackebühl, auf weitere Befeh1e zu warten.

Kaum graute der Morgen, als wir schon dumpfe Kanonenschläge und Gewehrsalven hörten und wir zweifelten nicht, dass etwas Wichtigen, nämlich die Erstürmung der düppler Schanzen im Werke sei und in grosser Spannun erwarteten wir die Order zum Vorrücken, die auch nicht lange auf sich warten liess, denn schon kam ein Adjutant daher gesprengt mit dem Rufe: "Beide Batterien avanciren " ... Jedoch jede Batterie durfte nur ein Kugel und ein Granatwagen der Explosion wegen mit ins Feuer nehmen. Ich, als Komandant des ersten Kugelwagens hatte die Ehre, an diesem Gefechte theil zu nehmen, ebenso mein Freund, Bombardier Israel, der den ersten Granatwagen befenligte und in Eile stürmten beide Batterien mit dem Pulverwagen den etwas aufsteigenden Fahrweg nach Düppel hinan. Wir beide liefen läng's des Strassengrabens dicht hinter einander, als wir seitwärts von Alsen her die lte Kanonenkugel auf uns kommen sahen, die aber ihre volle Kraft schon verloren hatte und endlich liegen blieb; wir lachten. - Aber 3 bis 400 Schritte weiter aufwärts verging uns das Lachen, denn plötzlich wurden wir beide zu Boden gestürzt, die Käppi vom Kopfe gerissen und ganz mit Erdschollen überschtüttet. Unsere Führsoldaten hielten uns für todt, denn sie glaubten uns schwerverwundet von einer 24 Pfündigen Kugel getroffen, dies vor meinen linken Fuss, von der Festung Sonderbar kommend, den ersten Aufschlag machte und dann zwischen den Wagen weiter flog; wir richteten uns schnell auf, reinigten uns und sahen, dass wir unverwundet waren und nur der Luftdruck uns zu Boden geworfen hatte. Gott dankend, eilten wir im raschen Laufe unsern Wagen nach und ganz erschöpft vom Rennen liessen wir uns förmlich durch sie uns auf´s Schlachtfeld schleppen; es war der 13te April 1849.

Während wir auf freiem Felde, nur wenig gedeckt mit 16 Feldgeschützen nach der Festung Sonderburg auf Alsen schossen, hatten wir 54 schwere Festungs- und Schiffsgeschütze gegen uns und war es ein grosses Glück, dass die feindlichen Kugeln im Anfang uns nicht erreichten, dann aber über uns hinweg sausten, aber zuletzt das Ziel erreichten, so dass wir, beide Batterien, einige Todte und mehrere Verwundete, auch gegen 7 bis 10 blesirte Pferde hatten, Eine grosse Bombe kam von einem Kanonenboote auf uns zugeflogen, als wir noch uns gegenseitig beschossen, und mit Spannung beobachtete ich ihren Lauf, aber als sie über meinem Kopfe schon hinweg war, explodirte sie erst glücklicher Weise, so dass die Eisenstücke wohl in das hinter uns liegende Kleefeld einschlugen, uns aber nicht mehr schadeten.

Eine kleine Stunde dauerte der Kampf, als der Befehl zum Zurückgehen gegeben wurde, jedoch durften wir nicht auf demselben Wege zurückgehen, auf dem wir gekommen waren, weil wir dem feindlichen Feuer von Alsen her zuviel ausgesetzt gewesen wären. Deshalb gruben unsere Pioniere eine breite Öffnung durch einen mannshohen Erdwall, mit Hecken bewachsen, vergassen aber eine schrägstehende dicke Baumwurzel durchzuhauen, was für die Kanonen wenig zu bedeuten hatte, als aber der Granatwagen in Eile darüber hinwegsetzte, neigte er sich langsam auf die Seite und gegen 20 bis 25 gefahren, stürzte er um. Ich dieses beobachtend, bat ich meine Fahrtrainsoldaten, am Loche angekommen, ganz langsam zu, fahren, um mit Hülfe meines Kanonier den Wagen auf der Seite zu stützen, wo es Noth that. Aber als die feindlichen Kanonenkugeln durch die Hecken flogen, ergriff Panik dieselben und ihre peitschen auf die Bespannung niedersausen lassen, jagten auch sie in Eile über die Wurzel hinweg und mein Wagen fiel auch um. Glücklicherweise kamen 8 Artilleristen, Bedienung der letzten Haubitze, zu uns und vereint mit ihnen und unsern Leuten, richteten wir die Wagen wieder auf.

Jedoch wahrend des Aufhebens schlug ein feindliches Geschoss in den Granatwagen und tödete das Stangenhandpferd, so dass die Stränge mit den Säbeln abgehauen werden mussten. Unser Major, Commandant beider Batterien, kam gerade dazu, als wir unsere Wagen aufrichteten, und hat uns dem Könige von Sachsen namhaft gemacht, dass wir uns durch Tapferkeit ausgezeichnet hätten. Mein Vater schrieb es mir auch, der es in der Zeitung gelesen hatte; und bei meiner Rückkehr in Sachsen, schenkte mir mein Vater eine schöne silberne Uhr, was mich sehr freute.

Einige Monate trat Ruhe ein, da kam Befehl für uns und unsere Infanterie, es war im Juli, in Eilmärschen nach Handersleben zu marschieren, um der Besatzung der Festung Fridericia zu Hülfe zu kommen, die durch einen geplanten Überfall dänischer Kriegsschiffe hart bedrängt war. Elf Stunden, ohne Trinkwasser, in Staubwolken eingehült, marschierten wir bis gegen Abend, wo wir Nachtquartiere fanden und fast vor Durst nichts essen, sondern nur trinken konnten. Bei der Infanterie starben auf dem Marsche 5 Soldaten an Bluterstickung. Anderen morgens kam Gegenbefehl und so marschierten wir wieder in unsere alten Quartiere, bis eines Tages im Herbste der Waffenstillstand proclamiert wurde.

In unserm Vaterlande Sachsen war während unserer Abwesenheit eine schreckliche Revolution ausgebrochen; die Aufrührer hatten in Dresden 120 Barrikaden errichtet, die viele Menschenleben forderte, darunter auch unser Oberst Homilius und nur durch Zuziehung von 15000 preussischen Soldaten konnte dieselbe erstickt werden. Heimwärts, da wir zu Fusse marschierten, brauchten wir 6 volle Wochen, bis wir in Dresden und andern Orten die Garnison wieder einnahmen und unsere gewöhnlichen Beschäftigung, als Wachen, als Wachen beziehen, exerzieren u.s.w.

III. Wieder auf Wanderung

Kurz darauf wurde ich zum Steuerexecutor ernannt, um saumselige Steuerzahler an ihre Pflichten zu mahnen, doch hatte ich seit einiger Zeit die Lust am Soldatenleben verloren und durch Bemühung meines Schwagers, Superintendent von Beyer in Plauen, der auf der Universität ein intimer Freund mit unserm Regimentsarzt Dr. Anschütz gewesen war, erlangte ich die Entlassung als Halbinvalid aus der sächsischen Armee.

Ich zog wieder, den Ranzen auf dem Rücken, in die weite Welt und fand in Jena auf längere Zeit Arbeit, dann pilgert ich durch das schöne Thüringen, die Städte Erfurt, Eisenach, in letzter Stadt die Wartburg ersteigend, auf der Luther die Bibel Übersetzte, es auch mit dem Teufel tun gehabt hatte, wovon heut noch der, mehr als hundert tausendmal erneuerte Tintenflex Zeugniss geben soll. Von der heiligen Elisabeth, die auf dieser Feste so segensreich, so herrliche Tugenden, auch mehrere Wunder gewirkt hatte, sagte mir niemand etwas davon.

Und dann und wann benützte ich die Eisenbahn, die in diesem hugeligen Lande oft durch Tunnel fährt, ging von Gotha nach dem schönen Kassel, auf dessen Schloss Wilhelmshöhe Napoleon der III längere Zeit gefangen sass. Von hier reiste ich uber Hildesheim, Hannover wieder nach dem lieben Hamburg.

IV. Neue Kämpfe

Dort hörte ich dass der Waffenstillstand zwischen Dänemark und Holstein aufgelöst und bereits eine Schlacht bei Idstätt geschlagen worden sei. So eilte ich mit noch 3 jungen Leuten nach Rendsburg und trat dort, da noch keine Verlustlisten von der Feldartillerie eingesandt waren, in das berühmte IIte Jägerchor als Gefreiter ein, marschierte andern Tages zu meiner Compagnie, kurze Zeit vorher, als das dänische Kriegsschiff Christian VIIIte im Hafen von Erkernvörde in die Luft flog; da wir 4 Stunden davon in Cantonnement lagen, so konnten wir deutlich den furchtbaren Knall hören.

Am 8ten Juni 1850, als unser Chor in Dubestätt lag, und ich mich auf Feldwache befand, sttürmten die Dänen in Masse auf uns ein, und wir gaben aus zwei Schanzen, mehrmals Peletonfeuer auf sie, dann zogen 12 und, sechzig Mann stark, langsam auf unser Chor zurück; kaum mit ihm vereint, bliesen unsere Hornisten: "Zweites Jägerchor, avanciren!". Feurigen Mutes sturtzten wir in geschlossenen Reihen dem Feinde entgegen und unserm plötzlichen Anprall nicht gewachsen, feuerten sie auf uns und ergriffen dann die Flucht und trieben ihn wieder über die Höhen in ihr Lager zurück. Gleich am Anfange des Gefechtes fiel neben mir der Jäger Dade, ins Herz getroffen, todt zu Boden, mich aber beschützte, wie bei Düppel, mein heiliger Schutzengel.

Beinahe hätten wir die Leute des feindlichen Generalstaabs gefangen genommen, die wir im raschen avanciren beinahe überrumpelt hätten, doch wurde ein höherer Staabsoffozier und einen unserer Sergeanten schwer verwundet. Später, am 12ten September, machten wir einen Angriff auf das feindliche Lager, trieben sie daraus und steckten die Baracken, die schön aus Stroh gebaut, inwendig aus selbigem Material mit Sophas, Betten, Tischen u.s.w. versehen waren, in Brand und trieben dieselben bis an ihr Hauptquartier.

Dann zogen wir uns aber schnell zurück, denn schon feuerten sie mit Kanonen auf uns, die sie eilig hatten kommen lassen, auch gaben sie uns von der Seite Gewehrschüsse. Nicht lange nachher wurde unser Chor in 2 Batallions umgewandelt, und aus 4 compagnien 8 gemacht und da gab es unter uns ein grosses Avancement, wobei ich zum Oberjäger aufrückte. Als sich unsere Compagnie zum erstenmal zum Antreten versammelte, wurde ich für den andern Tag auf Feldwache kommandiert, als der Hauptmann aber mich mit: Oberjäger rufte, entstand ein allgemeines Gelächter, wusste sich aber gleich zu helfen, indem er laut vor der ganzen Front sagte, wenn ich Oberjäger rufe, so sind sie damit gemeint.

Eines Abends, spät mussten wir antreten und Parole und Feldgeschrei ausgegeben, dann hies es, dass wir um Mitternacht 3 Stunden von uns entfernt, ein Dorf hätten, in dem Dänen im Quartier lagen. Die vordersten Jäger an der Spitze der Compagnie, am Dorfe angelangt, sollten schnell durchlaufen und am andern Ende die Flüchtlinge aufhalten; die im Zentrum hatten die Aufgabe, die vor den Häusern in Pyramiden aufgestellten Gewehre umzuwerfen und die zuletzt ankommenden Jäger sollten das Ende des Dorfes und die Gefangenen überwachen.

Drei Stunden marschierten wir lautlos durch die Stille der Nacht; weder geraucht noch gesprochen durfte werden, auch schien weder Mond noch Sterne. Freiherr von der Tann, der berühmte Freischaarenführer befand sich an der Stätte selbst. Der feindliche Doppelposten musste umgangen oder auf irgend eine Art beseidigt werden, damit wir die Dänen im tiefsten Schlafe überrumpeln konnten. Es war manchem von uns nicht ganz einerlei, weil bei solchen Affairen sich oft im Dunkeln die eigenen Freunde ermorden können, da ging es plötzlich durch die Reihen: "Stillstehen"! Wir horchten, und es schien, als wenn wir dem Dorfe ganz nahe wären, da hörten wir durch die Nacht eine Stimme auf dänisch 3 mal ertönen: Wer da! Und nach kurzer Pause 2 Schüsse hintereinander, oben im Dorfe aber ertönten die Alarmsignale. Der Überfall wurde durch 2 Wachsame, muthige Posten vereitelt. Wir machten kehrt und langten müde, schlaftrunken und ärgerlich wieder gegen Morgen an.

V. Waffenstillstand

Der Winter stellte sich langsam ein und unsere Vorpostenkette befand sich oft im tiefen Schnee. Es war nichts Angenehmes mehr bei dieser Kälte zu erwarten und wir waren alle froh, als die Nachricht kam, dass der Waffenstillstand abgeschlossen, die holsteinische Armee aufgelöst und die Frenden entlassen würden und dass Oestreicher und Preussen Schleswig Holstein mit Truppen besetzen kämen, was auch im Januar 1851 geschah. Wir Nichtholsteiner erhielten unsern Abschied und in Altona angekommen, der gemeine Soldat eine Gratifikation von 10 Thaler, während die Unteroffiziere das Doppelte, nähmlich 20 Thaler; als ich aber mein Geld auf der Strasse nachzählte, fand ich dass man mir 21 gegeben hatte, was ich auch ohne Gewissensbisse ruhig behalten konnte, weil ich dem Wohle dieses Landes ein grösseres Opfer gebracht hätte, wenn es Gottes Wille gewesen wäre, nämlich mein Leben. Noch heute, nach 50 Jahren, denke ich mit Freuden an die Zeit, welche ich in diesem Lande zugebracht habe; wo man mir mit grosser Freundlichkeit entgegen kam und alle den gemüthlichen Sachsen gern hatten, der auch seinerseits nur ein Ziel im Auge hatte, nämlich diesem Lande die Unabhängigkeit zu erkämpfen.

VI. Planlos mit Wanderstab

In drei Tagen erreichte ich mit der Eisenbahn über Magdeburg und Leipzig meine Heimat Plauen im Voigtlande. Jedoch nach einem kurzen Auenthalte verliessich wieder das Vaterhaus und fand in Dresden bei einer braven Familie auf mein Gewerbe dauernde Arbeit und als ich bereits 3 Monate in diesem Hause war, ging man mit dem Plane um, mich mit einer Nichte der Frau Meisterin, welche etwas Vermögen besass, aber zur Zeit in der Stadt Treuenbritzen wohnte, zu verheirathen. Zu diesem Zwecke sollte sie zu Pfingsten auf Besuch kommen und um uns besser einander kennen zu lernen, sollte in Begleitung ihrer Tante und mir eine 8 tägige Reisetour in die sachsische Schweiz veranstaltet werden. Da ich das Herumziehen als wandernder Handwerksbursch längst satt hatte, so theilte ich meinem Vater die ganze Angelegenheit mit und bat um einen Zuschuss von 400 Thalern, damit ich in Dresden Bürger und Meister werden könnte.

Die Antwort liess nicht lange auf sich warten, aber mit dem Bescheid, dass er mir erst in 2 Jahren diesen Wunsch erfüllen könne, weil er erst seine letzten Schulden bezahlen wolle, die er gemacht hatte, als er zum Bezirkssteuereinnehmer 1839 in Plauen befördert wurde, welches ihm aber die Pflicht auflegte, der Regierung eine Kaution von 3000 Thalern zu stellen, weil er Kassenbeamter wurde.

Entäuscht, meinem scheinbaren Glücke so fern zu stehen, wollte ich auch nicht länger in Dresden bleiben, sondern ergriff den Wanderstab planlos von Neuem, bis ich nach 3 Wochen zum 7ten male Hamburg betrat. Ich hatte nur Reisekleider und etwas Wäsche bei mir; al1es andere schickte ich heim, um es später nachschicken zu lassen, wenn ich Arbeit gefunden hätte; aber der Mensch denkt und Gott lenkt.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O Islã na Europa e a proibição da construção dos minaretes na Suíça

Por Felipe Kuhn Braun

Um dos maiores sociólogos da atualidade é um judeu, nascido na Polônia e erradicado no Canadá, Zygmunt Bauman. Autor de diversos livros sobre a atualidade, entre eles Amor Líquido, Vidas Desperdiçadas, O Mal-Estar da Pós-Modernidade. Bauman aborda sobre o ser humano hoje e a sociedade, sobre consumo, ideologia, propaganda e mercado, seguindo os passos de outro sociólogo conhecido, falecido há décadas, o francês Gui Debord. Gui Debord também deixou diversas obras e a mais importante delas, A Sociedade do Espetáculo, será com certeza motivo de análise em um próximo artigo. Um dos melhores livros de Bauman, Europa, merece ser estudado e se encaixa perfeitamente com os últimos acontecimentos registrados na Europa pela imprensa.

Segundo Bauman “Por séculos, a Europa foi uma ciosa exportadora de seus próprios excedentes de história, incitando/forçando o resto do planeta a tomar parte como consumidores. Esses longos séculos de comércio unilateral, iníquo, agora se rebatem sobre a Europa, colocando-a face a face com a tarefa desanimadora de consumir localmente o excedente da história planetária”. E mais, seguindo esse raciocínio “No planeta havia uma quantidade suficiente de espaços vagos nos quais os problemas da Europa – e, o que era mais importante, o “problema humano” – poderiam ser despejados”.

Bauman deixa claro em seus textos em diversas passagens que preencheriam algumas folhas, que os europeus se preocuparam por décadas na “remoção” de todos os indesejáveis. Foi principalmente nos séculos XIX e XX que grandes massas de alemães, italianos, portugueses, espanhóis, irlandeses, ingleses, neerlandeses foram enviadas para a América, África e Oceania. Pobres, doentes, agricultores, bandidos e prostitutas foram enviados para as colônias ultramarinas. Incrível imaginar que, por exemplo, um país como a Austrália tenha sido formado por bandidos e prostitutas e hoje é uma nação de primeiro mundo.

Muitos países europeus demoraram até se tornar países de primeiro mundo, com a guerra países como Alemanha, França e Inglaterra perderam grande parte de suas populações masculinas. Precisaram de mão de obra estrangeira para reconstruírem seus países. Henrique Domiks, brasileiro que emigrou para a Alemanha no pós-guerra em busca de melhores oportunidades conta que na época faltava mão de obra, havia somente nesse país 300 mil vagas sobrando no mercado de trabalho. Com os anos esses países incentivaram a vinda de imigrantes e pouco a pouco as vagas foram sendo preenchidas. Os europeus com o passar dos anos se negaram a fazer o trabalho pesado, limpezas, construções, operários manuais, toda a mão de obra pesada era ocupada na Alemanha pelos turcos, na Itália pelos romenos, na França e em Portugal por Africanos.

Turcos, romenos, poloneses, húngaros, africanos, árabes, indianos. Islâmicos, muçulmanos, pouco a pouco estrangeiros traziam seus parentes, montavam empresas, ocupavam postos de trabalho, no primeiro mundo constituíam família, casavam, tinham filhos. A Europa teve que se acostumar com novos costumes, idiomas, hábitos culturais. Na atualidade uma das maiores discussões européias gira em torno da integração entre os europeus natos e os imigrantes. A maior preocupação dos europeus é com os muçulmanos e islâmicos. Muitos relutam a se adaptar aos hábitos europeus e querem impor seus costumes aos alemães, franceses, ingleses.

Na França os juízes geraram discussões acaloradas quando proibiram no ano de 2007 o uso do véu nas escolas francesas. No mesmo ano os turcos viraram polêmica na Alemanha tentando proibir a colocação dos crucifixos em locais públicos, tais como escolas e tribunais de justiça. Em 2008 quem gerou polêmica foi o presidente turco em visita a Alemanha, que sugeriu aos alemães ensinarem o idioma turco nas escolas do país. Outra discussão atual é sobre os templos religiosos. Em novembro desse ano a comunidade turca da cidade alemã de Colônia, lançou a pedra fundamental de mais uma mesquita a ser construída em solo alemão. Em meio a protestos Ayse Aydin, porta-voz da comunidade Turco-Islâmica disse se tratar de um momento histórico para a comunidade turca.

No mês passado, na Suíça, 57% da população aprovou a proibição da construção de novos minaretes (torres) em mesquitas construídas no país. Na semana seguinte a comunidade turca protestou, a alta comissária da ONU afirmou que “a Suíça entrou em choque com seus compromissos de direitos humanos”. Para o ministro sueco do exterior, Carl Bildt “a ONU tem que repensar se deve continuar a fazer reuniões na Suíça”. O presidente turco classificou a decisão como uma vergonha para o país alpino. Já o ministro do interior Italiano, Roberto Maroni, considera a votação aceitável. Políticos de direita na Áustria e em alguns vizinhos europeus se mostraram favoráveis a decisão.

Na Europa, seja na França, na Alemanha ou na Suíça, todo ano há uma polêmica envolvendo a comunidade islâmica ou muçulmana. Parte disso também, pois, muitos dos imigrantes são radicais e desde os atentados de onze de setembro a Europa ficou mais atenta, principalmente depois das prisões ocorridas na Inglaterra, Espanha, Alemanha e Holanda, de terroristas estrangeiros erradicados nesses países. Um episódio ainda está marcado na mente dos europeus, o assassinato no ano de 2004 do cineasta Theo van Gogh, esfaqueado por um muçulmano de 26 anos, indignado com o filme “Submissão” dirigido por Van Gogh que retratava a violência dos muçulmanos com as mulheres.

Van Gogh, o símbolo da liberdade de expressão e do pensamento crítico foi morto por um fanático, símbolo de uma sociedade machista e preconceituosa. A Europa que por séculos “se livrou” facilmente de todos os indesejados, vê hoje seus países cheios de imigrantes e tem que lidar com novas realidades. A difícil integração de culturas, o fanatismo religioso, as ameaças terroristas e a crescente população de estrangeiros que daqui a algumas décadas provavelmente passará em números a população de “nativos” europeus estão entre as principais preocupações dos europeus.

Americanos não são Estúpidos

Por Felipe Kuhn Braun

Há um vídeo amplamente divulgado na internet, muito interessante com o título “Americanos não são estúpidos”, feito por um jovem repórter, Julian Morrow que foi as ruas dos Estados Unidos testar seus conterrâneos sobre conhecimentos gerais. Primeiramente ele pergunta há alguns cidadãos nomes de países que comecem com a letra U. Estados Unidos seria um deles “United States”. Um responde “Yoguslavia”, outro Utah (um Estado dentro dos Estados Unidos). Uma senhora responde “Utopia”. Dentre as tantas perguntas o repórter pede qual é a religião de Israel, eis que um cidadão responde: “israelita”. Para outro os israelitas são muçulmanos, para outro islâmicos, para o último eles são católicos. Em uma das perguntas Morrow pede qual a religião dos “monges budistas”. Para um rapaz é o islamismo e uma senhora sequer responde a pergunta. Morrow indaga, quem ganhou a guerra do Vietnã? Uma mulher diz que os americanos venceram e depois faz uma pergunta, mas estivemos mesmo na guerra?

O jornalista pede quem é Fidel Castro, para um americano ele é um cantor conhecido. A um cidadão ele pergunta quantos lados tem um triângulo e ele “sabiamente” responde: “quatro”. Uma jovem acredita que um triângulo não tem lados. Uma senhora não sabe a dizer o nome da moeda do Reino Unido e pede ao repórter o que vem a ser Reino Unido. Para um senhor os ingleses usam “dinheiro americano”. A senhora que não sabia responder sobre o Reino Unido acha que lá eles podem usar o “dinheiro da rainha Elisabeth”. O repórter vai mais além e pergunta qual o próximo país que deveria ser invadido no conflito contra o terrorismo mostrando a todos um mapa do planeta terra. Eis a resposta de um dos entrevistados: “nós fizemos uma grande explosão na porra do Oriente Médio”. Um rapaz prefere atacar a Itália, um homem prefere que ataquem a Itália. Para uma moça é o Irã, pois ela acha que lá farão uma revolução em breve. Entre as respostas aparece Rússia, China, Índia, Paquistão, Indonésia e Brasil.

Quando Morrow pede as moças que identifiquem o Sri Lanka elas marcam a China no mapa. Um casal quando pedido para marcar o Irã coloca um alfinete sobre a Austrália. Um cidadão também assinala a Austrália achando que lá é a Coréia. Outro cidadão também assinala a Austrália achando ser a França. Morrow pede, Kofi Anan (o líder a ONU) é uma bebida, verdadeiro ou falso? Um senhor responde “Café é uma bebida”. Para uma senhora Kofi Anan é uma empresa de advocacia. Um jovem acredita que Tony Blair é skatista. Para um senhor Blair é ator. Morrow pergunta quais os países que fazem parte do eixo do mal, para um rapaz a Alemanha, para um senhor é a “Califórnia”. Para uma mulher é Nova Iorque e para sua amiga é Jerusalém. Para uma senhora é “aquele pessoal com aquela coisa turbante”. O senhor que defini a Flórida como um dos países que incluem o eixo do mal, também inclui o Mississipi na lista.

Morrow pede a seus conterrâneos o que é uma mesquita, para uma senhora é um animal. Um jovem acredita que a pessoa possui apenas um rim. Para um senhor houve três guerras mundiais. O jornalista faz uma pergunta, Star Wars é baseado em fatos reais, verdade ou mentira? Para um jovem isso realmente aconteceu. Um senhor acredita que Hiroshima e Nagasaki são famosas pelas lutas de judô. Um rapaz diz que existem pelo menos dez torres Eiffel em Paris. Um cidadão acha que a Al-Qaeda é um grupo suicida de Israel, no Oriente Médio, a para ele o “presidente” dessa organização é Yasser Arafat. Um senhor acha que a Al-Qaeda é uma “asa” da Ordem Maçônica. Para completar um jovem acredita que o muro de Berlim fica em Israel.

O vídeo em questão não serve para desqualificar os Estados Unidos. Serve para demonstrar como muitas pessoas sequer têm noções de conceitos básicos da geografia, matemática, política, história... Que há uma infinidade de pessoas de uma extrema ignorância que desmistificam a interpretação de muitos dos Estados Unidos como o país do conhecimento. Para pessoas que sequer sabem os lados de um triangulo até pode haver uma justificativa, agora imagine pessoas apoiando a guerra no Iraque sem sequer saber o que é a Al-Qaeda e quais são os países do Eixo do Mal? Pessoas que não sabem quem é Yasser Arafat e que definem que Califórnia e o Mississipi, Estados do seu próprio país, como países do eixo do mal podem defender uma guerra sem sequer entender o que é e muito menos entender todos os interesses e a manipulação por detrás de tudo isso. Essas pessoas são o grande exemplo de cidadãos que são facilmente influenciáveis, que votam e apóiam homens públicos sem a mínima noção do que fazem ou do que pensam seus líderes.

Os 20 Anos da Queda do Muro de Berlim

Por Felipe Kuhn Braun

Na última segunda, dia 9 de novembro completou 20 anos da queda do Muro de Berlim. No final da segunda grande guerra, enquanto Hitler chegava à conclusão que aqueles eram os últimos momentos do terceiro Reich e que teria que pôr fim a sua vida para não ser capturado, os soviéticos tomavam Berlim de ponta a ponta sob os comandos do ditador Stalin. Mas a guerra na foi vencida somente por Stalin. Após a derrota da Alemanha, os países vencedores impuseram aos alemães pesadas sanções. A Alemanha foi ocupada, separada e administrada por estrangeiros que a dividiram em quatros regiões administrativas.

Berlim também foi dividida e ocupada pelos americanos, ingleses e franceses na parte
ocidental e por russos na parte oriental. Acontece que Berlim situa-se dentro de uma província (Brandenburgo) que na época era totalmente controlada pelos soviéticos. A única forma de Berlim Ocidental ser provida de mantimentos era por pontes aéreas e terrestres que passavam dentro do território russo. Em 1948 Stalin bloqueou todas as pontes terrestres acreditando que assim os americanos e aliados não poderiam mais prover Berlim Ocidental, abandonando-a aos russos. Para o historiador John Lewis Gaddis, autor do livro Guerra Fria, “Stalin acreditava que o custo da guerra em vidas e bens deveria ditar após a guerra quem ficava com que. A Alemanha ele puniu com ocupação militar, expropriação de bens, pagamento de indenizações e transformação ideológica”.

Assim para manter Berlim Ocidental sobre controle dos capitalistas, os americanos tiveram que reforçar sua ponte aérea para auxiliar todos os berlinenses ocidentais, cerca de dois milhões. Todo o abastecimento tinha que ser aere. Anos mais tarde os russos bloqueariam totalmente Berlim ocidental com a construção do famoso Muro de Berlim em 1961. O muro foi construído, pois, os russos tinham dificuldades em conter tantas pessoas e famílias migrando para o lado ocidental capitalista. O muro não dividiu somente duas regiões administradas políticas e ideologicamente por povos culturalmente distintos. Separou famílias, sonhos, histórias de vida. Foi uma época difícil para os alemães, principalmente para os berlinenses.

O muro foi o símbolo da bipolarização, apenas duas grandes nações detinham o grande
controle, os Estados Unidos e a Rússia que liderava a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Essa época foi conhecida como Guerra Fria, quando esses dois países no comando lutaram pelo poder econômico, cultural e militar, gerando a corrida armamentista. Nessa época cada nação tentava investir mais que sua oponente em armas químicas, biológicas e nucleares, gerando tensões que poderiam ocasionar uma terceira guerra mundial, como a crise dos mísseis em 1963, a Guerra da Coréia, a Guerra de Suez e, por último, a Guerra do Vietnã.

O investimento em armas e na corrida espacial foi tão grande que na década de 1980 a URSS andava claudicante, dando sinais que seu fim estava próximo. A burocracia, a crise econômica mundial, a perda da produção agrícola com o desastre nuclear de Chernobyl, tudo indicava que o Estado socialista, idealizado por Lênin, dirigido por ditadores como Stalin, simbolizado pela foice e o martelo chegava ao seu fim. A queda do Muro de Berlim simbolizou o esfacelamento de um modelo ineficaz para a sociedade atual, o fim de ditaduras cruéis na Europa Oriental e na Ásia e o começo de uma democracia nesses países. Também representou a união de uma Alemanha dividida por mais de quarenta anos.

A queda do muro foi um símbolo e deve ser comemorada. Porém não podemos esquecer que
um dos maiores benefícios da democracia, a liberdade e o direito a informação ainda é
ameaçada na Alemanha democrata por neonazistas de um lado que teimam em não reconhecer os erros cruéis cometidos no passado e em repetir preconceitos e estereótipos inaceitáveis. Pelo governo que, usando a desculpa de zelar pela proteção de seus cidadãos, violou escutas telefônicas em anos anteriores de repórteres que cobriam as guerras no Iraque e no Afeganistão e pela Central Judaica que tem sua sede na Alemanha e que coordena tudo que é divulgado na mídia alemã sobre o Holocausto e o Estado de Israel dando permissão apenas para as notícias que lhe são favoráveis.

Guerra Justa

Por Felipe Kuhn Braun

Recordo-me de uma capa da revista Veja de uns cinco anos atrás com o seguinte título: “Existe guerra justa? Sim, mas não esta”. O título se referia a mais um conflito no oriente médio, de extremistas que são guiados pela religião e pelo fanatismo em ambos os lados. Na época li um artigo em um jornal de minha terra natal, Novo Hamburgo, de um senhor conhecido nesse município que faleceu há dois anos. Era o Sr. Ernest Sarlet, quem conheceu seu trabalho e sua personalidade, como professor e ex-secretário de educação de Novo Hamburgo, o admirava. Assim como eu, um jovem estudante que lia seus artigos e que tive a oportunidade de ficar uma tarde inteira no ano passado conversando com sua viúva, também educadora, nascida no Brasil e criada na Europa, onde conheceu Sarlet, um belga que se erradicou no Brasil.

Sarlet e sua esposa Erica vieram para o Brasil no pós-guerra e vivenciaram o segundo maior conflito da história, foram testemunhas oculares de crimes de guerras cometidos pelos alemães e depois pelos ingleses e norte-americanos que destruíram cidades inteiras com bombardeios aéreos por toda a Alemanha. Naquela semana Sarlet escreveu um artigo criticando a revista Veja, ninguém melhor do que ele para dizer que não existe guerra justa. Diferente de um jornalista que escreveu com uma série de pré-conceitos, Sarlet relatou um pouco de sua vivência. Quem leu as palavras do sábio educador pode ter uma pequena idéia do porque em sua concepção uma guerra não era aceitável, o que dirá justa.

Acreditamos ser justo ou aceitável um conflito armado quando não o vivenciamos e não somos atingidos diretamente por ele. Vejamos a guerra no Iraque, por motivos financeiros que George W. Bush invadiu esse país do oriente médio alegando que Saddam possuía armas químicas e biológicas e, portanto era um perigo para a humanidade. E os Estados Unidos, segundo a visão dos norte-americanos, tinha o dever de implantar um regime democrático nesse país. Sabemos que os resultados dessa guerra foram outros, que os motivos por detrás eram totalmente diferentes dos divulgados e que os norte-americanos só mudaram de opinião quando seus parentes e amigos que eram soldados morriam nos campos de batalha. Mais uma vez os Estados Unidos seguindo o exemplo desastroso das antigas potencias européias, como a Bélgica, França, Inglaterra, que controlaram países africanos somente enquanto isso lhes beneficiava.

Os europeus têm uma dívida grande com os africanos, os habitantes da Argélia, por exemplo, ainda não esqueceram a repressão francesa durante a guerra de independência há mais de quatro décadas. E o que foi feito com Ruanda em 1994? Quando as potencias européias simplesmente abandonaram esse país no meio do genocídio que culminou com quase um milhão de mortos, tão bem retratado no filme Hotel Ruanda. Sem contar que Inglaterra, França, Estados Unidos e Rússia, que ocupam as mais significativas “cadeiras” da ONU são os países que mais lucram com o comércio de armas para o continente africano. Os conflitos estão aí desde que os homens existem, são retratados nos livros mais antigos como a Bíblia e depois em livros modernos, filmes, manifestações artísticas como o painel Guernica de Picasso, retratando a guerra civil espanhola.

Conflitos sempre existirão devido ao individualismo, ao preconceito, ao ódio, a ignorância. Ceifaram milhões de vidas, esfacelaram sistemas, dizimaram povos, suprimiram culturas e modos de pensar. Nem por isso devemos aceitá-los da forma mais passiva possível e não interpretá-los sobre diversos olhares. Devemos estudá-los segundo a história, a sociologia, a antropologia, sobre o olhar da comunicação, das ciências políticas. Aprendermos sobre o porquê disso tudo e a jamais rotularmos uma guerra como justa, como santa, como benéfica e necessária. Não são as cifras, meros números que nos farão mudar de idéia. São os relatos como o de Sarlet e infelizmente as vivências nesses conflitos, que por uma grande felicidade o Brasil não presencia e pouco presenciou em toda a sua história, que nos fazem mudar de idéia. Se a guerra no Iraque fosse tão boa e necessária porque dos 535 congressistas norte-americanos, apenas um mandou seu filho para o campo de batalha?

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Como começou meu interesse pela pesquisa sobre imigração alemã

Abaixo segue um relato meu sobre como comecei a pesquisar genealogia, fotografias antigas e histórias, que resultaram em meu primeiro livro que será publicado no começo de 2010, História da Imigração Alemã no Sul do Brasil.

Por Felipe Kuhn Braun

Pesquiso desde os 14 anos, desde setembro de 2001.

Minha avó paterna que era natural de Bom Princípio (Luzia Vale Heck), morava em nossa casa e sempre contava histórias de família. Ela sabia sobre os tios, primos distantes, avós...parentes em geral. Além de sempre contar histórias de como era Bom Princípio antigamente. Ela faleceu em dezembro de 2000 e no ano seguinte pensei, quanta história (no caso a história oral, contada entre os mais antigos e que pouco foi registrada em gravações ou escritos) se perdeu com seu falecimento. No ano em que minha avó faleceu eu estava no ensino fundamental e a professora tinha pedido para fazermos uma pequena árvore genealógica de nossa família, na época quem me ajudou foi minha avó, meses antes de falecer. Ela faleceu em Novo Hamburgo.

Procurei a árvore e comentei sobre o assunto com uma tia de minha mãe que me trouxe a árvore da família dela (os Jaeger Moraes), pronta até o ano de 1750! Aí comecei a me interessar. Liguei para uma tia de meu pai, que mora em Bom Princípio, a Lourdes Steffen Heck, casada com o Olavo Heck, irmão mais novo de minha avó paterna e fui visitá-los em Bom Princípio. Depois de algumas visitas a Bom Princípio descobri que de minhas famílias ninguém havia pesquisado ainda. Engana-se quem acredita que encontrará informações sobre sua família na internet, quem quer realmente conseguir material, deve visitar as localidades, os familiares, as igrejas, os cemitérios, os cartórios.

Eu visitava os parentes e pedia se conheciam mais pessoas na família que possuíam nomes, informações e fotografias, as vezes alguém dizia, (um exemplo) tem um primo Heck que mora em Feliz, eu procurava na lista telefônica todos os Heck de Feliz, ligava e me apresentava, dizia meu nome, que a pessoal tal me informou sobre ele, e que procurava informações sobre seus irmãos, pais, avós...as pessoas em geral me receberam muito bem nos municípios que visitei. É difícil encontrar alguém que não goste de saber sobre a sua história, sobre a história de sua família, de seus antepassados. Tudo começou sobre um hobby, porém, quanto mais curiosidades e informações eu descobria, maior era o desejo de encontrar mais. Em oito anos de genealogia consegui juntar 300.000 nomes de descendentes de alemães no sul do Brasil.

Mas aí vi o descaso que as pessoas em geral dão para as fotografias. Uma porque não temos como costume escrever atrás das fotos, então em uma ou duas gerações a frente, ninguém saberá quem são as pessoas que temos em nossos álbuns. É difícil encontrar alguém que saiba informações além de seus avós, o que tenha conhecido todos os avós e outros ancestrais. Antigamente as pessoas tinham filhos cedo, mas a maioria das pessoas não vivia muito mais do que 60, 70 anos. Hoje as pessoas vivem até os 80, 90, mas constituem família muito mais tarde. Então eu visitava as famílias, buscava fotografias, identificava todas, uma a uma, escaneava e imprimia elas em papel de fotografia. Aí que começaram a vir as surpresas, fotografias de casamentos onde os vestidos de noiva eram pretos. Fotografias feitas dos falecidos, pois, a distância era grande, quando nem todos os parentes podiam estar no enterro, tiravam uma foto do falecido e enviavam por correio. Aí encontrei cartas, as cartas com a faixa preta, quando alguém as recebia, sabia que um parente ou amigo distante tinha falecido. Encontrei documentos da época do império, cartas enviadas entre os parentes, em alemão gótico.

Porém, toda família que visitava tinha uma história diferente, quantas vezes ouvi "não temos mais fotografias do imigrante, pois, estavam no sotão e depois da reforma colocamos esse material fora". Em uma família me contaram de uma caixa, que ficou por mais de cem anos na família, mas que estava nos últimos anos no paiol que pegou fogo e todo o material acabou sendo queimado. Outros não tinham mais as fotos, pois, as traças tinha comido quase todas. Assim percebi que nomes poderemos encontrar nos livros daqui há décadas, mas fotografias estão se perdendo aos montes, as histórias de nossos municípios e de nossas famílias estão se perdendo. De raríssimos lugares e famílias encontramos fotografias anteriores a 1900, mas de muitas consegui fotografias dos imigrantes, das construções das igrejas, do começo de vilarejos e cidades.

O que era um hobby se tornou uma missão, procurar, encontrar e digitalizar pouco a pouco fazendo visitas no interior, todo o material fotográfico mais antigo, que retrate os imigrante e seus descendentes com seus costumes e hábitos culturais. Encontrei familiares e visitei famílias em Bom Princípio, Feliz, São Sebastião do Caí, São José do Hortêncio, Dois Irmãos, Morro Reuter, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Porto Alegre, Gravataí, Picada Café, Ivoti, Nova Petrópolis, Gramado. Também localidades mais distantes como Cerro Largo e Santo Ângelo, perto da fronteira, Ijuí, Itapiranga (na divisa da Argentina com RS e SC), Guarujá do Sul, São Carlos e Joinville (essas três cidades em Santa Catarina). As primeiras localidades fundadas pelos imigrantes foram Ivoti e São José do Hortêncio, depois dali fundaram Dois Irmãos, Bom Princípio, mais tarde Estrela, Lageado (chamadas de novas colônias, em alemão Neu Kolonie), mais tarde Cerro Largo e localidades na região das missões, no começo da década de 1900. Na década de 1910 as primeiras localidades na Argentina (como Puerto Rico nas Misiones), e o oeste catarinense. Depois da década de 1940 os gaúchos descendentes de alemães colonizaram o Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e ainda mais para o norte. É fantástico imaginar que milhões de brasileiros tem suas origens nas primeiras colônias alemãs como Ivoti e São José do Hortêncio e que se fossem se reunir todos não teria espaço nessas localidades.

Peculiaridades são muitas, muitas mesmo. Algumas informações gerais, as pessoas viviam bem menos que hoje em dia (uma simples apendicite virava morte e catarata deixava as pessoas cegas, não havia cirurgia para isso), as pessoas tinham muito mais filhos, as famílias eram numerosas, se viam pouco devido a distância e os poucos e lentos meios de locomoção na época. A religião era muito mais forte e presente na vida das pessoas. O preconceito muito maior principalmente entre pessoas de religiões e etnias diferentes. Algumas curiosidades são interessantes, outras tristes, algumas inacreditáveis, outras na época inacetáveis (para a sociedade da época), alguns problemas entre famílias foram escondidos durante décadas devido as pressões da sociedade da época, cada família tem uma história e muitas merecem realmente continuar sem serem contadas. Traições aconteciam, menos que hoje, mas muito mais do que pensamos em relação aquela época. Tudo que acontece hoje em maior ou menor escala, o egoísmo, o altruísmo, o trabalho, a seriedade, a honestidade, a corrupção, as desavenças, as uniões, os preconceitos, os encontros, tudo isso é inerente ao ser humano e aconteceu em todas as épocas.

Informações interessante que descobri sobre a minha família, descobri por exemplo que sou descendente direto de Guilherme Winter, o fundador de Bom Princípio e descobri sua genealogia até o ano de 1690. Descobri que sou descendente de Mathias Mombach, o imigrante fundador de Walachei (interior de Morro Reuter) que foi soldado da guarda pessoal de Napoleão Bonaparte. Sou tataraneto de Franz Adolph Jaeger, imigrante alemão, vindo da Saxônia que se instalou em Feliz e teve seis filhos, os seis professores, um deles Maria Jaeger, a primeira professora de Bom Princípio. Sou trineto de Henrique Roehe, advogado, primeiro escrivão e médico homeopata de Bom Princípio. Quanto a outras famílias, em oito anos consegui juntar 5.140 fotografias antigas de descendentes de alemães no sul do Brasil. Fotos de encontros, dos Kerb, das localidades, escolas, igrejas, missas, das ferrarias, moinhos, padarias, sociedades de tiro, de canto, das congregações religiosas, do trabalho na roça, das casas enxaimel, também dos velórios, da pobreza e da riqueza entre os descendentes de alemães.

Em 2007 fui para a Alemanha, visitei o Hunsrück, passei dias nas casas de parentes distantes, visitei museus, igrejas, monastérios antigos, fiquei na casa de um padre, em um seminário e em um monsteiro. Visitei bibliotecas e trouxe de lá em um mês, material de diversas famílias que descendo, Mombach, Heck, Wolf, Zilles, Kraemer, Kuhn, Holz e tantas outras, o máximo que encontrei foi o histórico de ancestrais pelo lado paterno até o ano de 1375. Trouxe cópias de certidões, de registros de impostos, de livros, bem como 22 livros da Alemanha. Com isso consegui um arquivo de 30.000 nomes de ancestrais dos imigrantes alemães de centenas de famílias da região. Com o histórico completo de famílias como Schaefer, Vier, Finkler, até meados do século XVI. Também o histórico de famílias nobres que vieram para o sul, como os von Hohendorff, cujo a genealogia remonta a Carlos Magno, o mais famoso imperador europeu. Quem acaba pesquisando, estabelece um laço emocional com sua história, tanto material só terá utilidade se for publicado, sendo assim preservado e divulgado. O meu maior objetivo são futuras publicações, já tenho cinco projetos de livros prontos, todos enviados a gráfica, mas estou em busca de patrocínio. O primeiro já está quase pronto para a impressão e será publicado no começo do ano que vêm, os demais são projetos e ainda não foram publicados mas com o tempo acredito tornar isso viável.

Meu maior objetivo e resgatar e preservar essa pequena parte da história fotográfica dos alemães, através da imagem podemos aprender muito sobre determinadas épocas, famílias, costumes e tradições, alguns perdidos para sempre, outros mantidos pelos descendentes. Um falecido jornalista de Novo Hamburgo (Sr. Bruno Dienstmann), em um de seus textos, entregues a meu avô na década de 1970 (meu avô paterno Pedro Albano Braun que também era um apaixonado por genealogia) escreveu: "Pesquisar a história de nossos antepassados, é um ato de gratidão a todos que nos deixaram, tudo aquilo que aí está".

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Kerb no Morro dos Bugres

Kerb no Morro dos Bugres

Por Felipe Kuhn Braun

Quando os imigrantes alemaes chegaram ao sul do Brasil no começo do século XIX, decidiram que fariam algo para se manterem unidos e preservarem seus costumes para as próximas gerações. Além de manterem o idioma, a alimentação, a fé, de confissão católica ou luterana e o zelo pela educação, fizeram o Kerb.

O Kerb é uma festa que acontece uma vez por ano em cada localidade de origem alemã, é uma festa tradicional do Hunsrück, região de onde vieram a maior parte dos imigrantes, mas que hoje não acontece mais na Alemanha. Cada localidade fundada pelos alemães católicos tinha um padroeiro, e era na data de seu santo protetor, que a comunidade se reunia em um dia inteiro de festa. Isso acontecia apenas uma vez por ano e a festa era realizada nas casas do lugarejo, tradicionalmente primeiro havia uma missa, depois cada um ia para sua casa, porém a casa ficava repleta de parentes que vinham das comunidades vizinhas, e cada família se reunia e celebrava junta a festa do padroeiro, as músicas alemãs, as histórias de família, os acontecimentos da comunidade.

As casas eram relativamente grandes até entre as famílias mais modestas, afinal todos tinham proles numerosas, geralmente de oito a doze integrantes, mas havia famílias com até dezoito filhos! Quase todos os imigrantes e seus descendentes eram agricultores, tinham suas terras e a alimentação era mais barata. Dias antes os homens das famílias já se reuniam para abater os bois, porcos e frangos, as mulheres para fazerem as cucas, bolinhos de batata, roscas, bolachas pintadas, alimentos que são tradições de seus antepassados e que trouxeram para o outro lado do atlântico. Nunca vinha uma família inteira para o Kerb, alguns parentes moravam muito longe e a maior parte deles tinha terras e animais a cuidar, portanto vinha um ou alguns representantes de determinada família. Eles acomodavam seus cavalos nos estábulos e dormiam de um dia para o outro na casa dos irmãos, pais, cunhados.

Jean Roche, um historiador francês que veio para o Brasil na década de 1970 para pesquisar sobre a emigração alemã por esses lados, ficou impressionado com a fartura dessas festas sobretudo na alimentação e na bebida, ficou impressionado com o consumo de cerveja, a bebida oficial dos teuto-brasileiros.

Principalmente a partir da década de 1960 as famílias foram para as cidades, diminuiu a presença no campo, o custo de vida aumentou, os jovens que chegaram as cidades tinham que trabalhar, estudar, as famílias já não se reuniam como outrora, porém devido a facilidade dos meios de locomoção podiam se ver mais vezes durante o ano, quanto ao idioma muitos ainda falavam o alemão, porém já na década de 1940 com a censura de Vargas, durante 1938 a 1945 era expressamente proibido falar alemão nas colônias e isso já fez com que muitas famílias não ensinassem mais seu idioma materno a seus filhos. Os costumes foram se perdendo, a igreja perdeu sua influencia, o idioma não era mais conhecido por todos e as festas foram acabando ou enfraquecendo, nem todas as comunidades já realizavam os Kerb e as novas gerações que já não tiveram o idioma alemão como primeira língua e cresceram na cidade, nem conhecem muito da culinária, da história, dos costumes alemães.

Foi então a partir da década de 1980 que mais pessoas se interessaram em pesquisar sobre suas famílias, no interior não se fazia isso, dificuldades financeiras, muito trabalho e falta de conhecimentos específicos, propiciavam um esquecimento da história pouco a pouco. Com o avanço dessas pesquisas os genealogistas fizeram um resgate de nomes, datas, fotografias, objetos, de dezenas de famílias do sul do Brasil, aos poucos o interesse aumentou e também a facilidade para pesquisas como a internet, a vinda de mais alemães para turismo no sul, forneciam contatos e informações do velho mundo afinal muitos queriam saber de que regiões da Alemanha vieram seus ancestrais e descobrir nomes a datas dos antepassados europeus, o que sobrou ainda depois de tantas guerras lá no velho mundo, as da Alemanha perdem-se no tempo e enchem-se algumas mãos ao contá-las.

Aí os pesquisadores e familiares interessados pela história das famílias foram além e começaram a promover festas de famílias. Reuniam-se algumas informações, procuravam-se os endereços dos parentes, ao menos os que ainda mantêm o sobrenome, o que é relativamente fácil com as listas telefônicas na internet. Contatavam os religiosos da família, encontrava-se um salão em alguma comunidade do interior e pronto, em um dia ou um final de semana se reuniam todos, primeiro em uma missa, depois em um almoço, baile a noite, e um almoço no outro dia ainda. Mais ou menos nesse modelo surgiram as festas de família, geralmente bianuais, algo muito semelhante ao Kerb de antigamente.

Mas ainda hoje, quase 200 anos depois da chegada dos primeiros imigrantes, em pleno século XXI algumas comunidades ainda realizam seus Kerb, uma delas é Morro dos Bugres, distrito do pequeno município de Santa Maria do Herval, que virou notícia há alguns anos atrás por ser a cidade com melhor distribuição de renda do Brasil, vizinha de Morro Reuter, a segunda cidade do país com o menor índice de analfabetismo. Morro dos Bugres é uma comunidade muito interessante, uma das primeiras fundadas por alemães do sul do Brasil, seus fundadores eram todos católicos e já na década de 1850 construíram uma igrejinha tão resistente que existe até hoje. Na verdade seu nome originalmente nada tem a ver com índios, o local foi povoado em seu início pela família Bucher, e ali era chamado pelos vizinhos de Bucherberg, morro da família Bucher, os registros antigamente eram feitos pelos portugueses que enfrentavam dificuldades nas grafias alemãs recheadas de tremas, consoantes e palavras impronunciáveis, assim também foi com essa comunidade que passou a ser compreendida pelos escrivoes da época como Morro dos Bugres a assim seu nome mudou e se oficializou dessa forma afinal o que é escrito geralmente se perpetua com o tempo.
Para chegar a Morro dos Bugres é preciso pegar uma estranha sem pavimentação alguma, fruto do descaso dos políticos gaúchos com os colonos que tanto trabalham.

A comunidade é muito semelhante a outras fundadas por alemães no sul, tem uma igrejinha católica, ao lado o salão da comunidade, em frente o cemitério onde repousam alguns dos imigrantes que fundaram a localidade. Ao lado do cemitério uma pequena escola que infelizmente encontra-se fechada há uns oito anos, é um exemplo do que estudamos nos livros, hoje os casais tem menos filhos, e muitas famílias se transferiram para as cidades, comunidades como Morro dos Bugres tem muito poucas crianças.

Ao lado do salão há um bar e armazém que pertence a família Moraes. Interessante que essa família possui integrantes em várias comunidades do interior, os Moraes têm feições de alemães e alguns nem sequer falam português. As pessoas se perguntam por que no meio de uma comunidade onde antigamente só moravam alemães, no meio dos Weber, Dapper, Siedekum, encontra-se os Moraes que se dizem alemães, e de fato são de origem alemã, porém eles tinham um antepassado português que foi para o interior de origem alemã, esse portuga casou com uma alemã, teve 12 filhos, 104 netos...com uma prole tão grande pode se ter uma idéia do tamanho da família ali no interior. Várias gerações se passaram desde esse primeiro Moraes, único luso que morava entre os alemães daquela região, um de seus descendentes, Eugênio Moraes, foi um dos primeiros proprietários do armazém em uma época em que não existiam os grandes mercados nem as facilidades de locomoção, ele era responsável por provir a comunidade com alimentos e fazia constantes viagens a duas cidades importantes já em sua época, Caxias do Sul, na serra e Porto Alegre, a capital do Estado.

Além disso Eugenio foi professor, catequista e músico, tinha uma voz muito bela e suas partituras encontram-se com alguns descendentes, o professor Moraes faleceu em 2002 na comunidade que acolheu para ser seu lar, onde educou seus dez filhos, netos e filhos da comunidade. Eugênio ainda escreveu pouco antes de falecer com a abençoada idade de 90 anos, lúcido e com saúde, um pouco e sua vida, onde conta um pouco sobre si e Morro dos Bugres.
A filha de Eugenio, Noêmia, também foi professora na comunidade, a última antes da escola ser fechada. Noêmia continua depois de aposentada a participar ativamente na igreja, nas comunidades do interior já se sente a falta dos padres, em Morro dos Bugres as missas acontecem uma vez por mês, em outras épocas acontecia todo final de semana. Mesmo assim Noêmia abre a igreja todos finais de semana e junto com seus vizinhos e outros habitantes da localidade realiza orações e cantos em português e alemão. A igreja pequena, de mais de 150 anos, ainda abre as portas todos os finais de semana, por ali já passaram gerações e gerações naquele lugar perdido no interior.

O padroeiro de Morro dos Bugres é São Francisco Xavier e a festa da localidade acontece sempre em abril. O Kerb lá é similar aos de antigamente, sempre é durante um final de semana, no sábado no meio ou no final da tarde é celebrada a missa. Logo após a missa quase toda a comunidade se dirige ao salão onde é feita uma grande janta de Kerb. Os homens já no dia anterior preparam a carne para o churrasco, marcante na culinária gaúcha e as mulheres lavam e cozinham as batatas, ovos, cenouras, para a maionese, fazem as cucas e preparam a salada que será servida no sábado, rabanete, tomate, alface e o tradicional chucrute, repolho azedo. No sábado enquanto o padre celebra a missa e a comunidade reza unida, no salão ao lado da pequena igreja, vários senhores já assam a carne para a janta que acontecerá a noite. Na missa canta se Grossen Gott, wir loben dich, Maria zu lieben e outros cantos tradicionais alemães, a missa termina e alguns ainda conversam em frente à igreja, a maioria já se dirige rapidamente para o salão com seus cartões para a janta.

Durante a janta as pessoas se reencontram, amigos, famílias, apreciam um gostoso churrasco com cuca e maionese e uma variedade de saladas, o costume alemão é misturar os doces com salgados. Bebem refrigerantes, mas, sobretudo cerveja! Diversas marcas, gostos e sabores e muita cerveja! Logo após a janta vem o baile, músicas alemães, as tradicionais músicas de bandinha, as músicas antigas da velha pátria dos antepassados, marchinhas e música gaúcha também! O baile vai até tarde regado a cerveja, a janta com muita carne e cuca, conversas no Hunsrück Deitsch dialeto que ainda se fala em Morro dos Bugres e região. Os bailes duram até quase a manhã do dia seguinte. No domingo acontece o Kerb nas famílias. É um tanto diferente daquele que acontecia antigamente, hoje às famílias são menores, mas a fartura nas casas continua, são servidas várias sobremesas, almoços e cafés em quase todas as casas da localidade.

O Kerb irá desaparecer com o tempo e o grande espaço será das festas de família caso estas continuem, ainda hoje essas festas servem de exemplo para encontro e confraternização de amigos e famílias, uma idéia antiga, do velho mundo, aperfeiçoada pelos antepassados imigrantes que chegaram a um país desconhecido com a vontade de crescer, educar seus filhos e ter uma vida melhor, poderem se reunir todos os anos para lembrar-se da pátria mãe e dos costumes dos ancestrais. Que ainda hoje, quase 200 anos, ainda se mantêm sobretudo no interior do Rio Grande do Sul, fazem parte de um Brasil que muitos brasileiros não conhecem e que deixaram grandes marcas culturais na América Latina.

O antigo clube de filatelia hamburguense fechará suas portas

O antigo clube de filatelia hamburguense fechará suas portas

Por Felipe Kuhn Braun

Soube esses dias que um lugar pouco conhecido pela maioria dos habitantes de Novo Hamburgo fechará suas portas definitivamente. É o clube de filatelia. Um nome interessante, porém pouco conhecido pela maioria dos falantes da língua portuguesa. Filatelia é a arte de colecionar selos. Geralmente os colecionadores tradicionais são senhores de meia idade e de muita idade!

Para o bom filatelista, o simples ato de guardar os selos que chegam nas esporádicas cartas que recebemos nesse mundo pós-moderno, não é filatelia. O bom colecionador deve colecionar temas como fauna e flora, aviação e navegação ou países específicos. Os mais novos impressos pelos correios são baratos e existem aos montes, mas os mais antigos são verdadeiras relíquias, o Olho de Boi, primeiro selo impresso no Brasil, o ein Kreuzer da Baviera, primeiro alemão ou o One Penny da Inglaterra, primeiro selo impresso no mundo em 1840, valem uma nota, ou melhor, muitas notas!

O antigo clube hamburguense tem sede própria, uma sala no meio do centrão de Novo Hamburgo, não há avisos sobre o clube nem mesmo na entrada da galeria daquele prédio cinzento, a entrada localiza-se inclusive em uma rua nem tão movimentada da cidade. Porém o clube guarda um grande acervo, lá ocorriam os troca-trocas, leilões e encontros de duas em duas semanas. Com o tempo os sócios mais velhos faleceram, suas viúvas e filhos se desfizeram de coleções organizadas durante décadas, em apenas alguns minutos e por alguns trocados. Alguns já em vida venderam suas coleções, muitos, pois perderam dinheiro nas épocas de crise que passou a grande cidade do calçado. O clube não divulga seus eventos e foi perdendo sua força.

Hoje não mais que meia dúzia de senhores se reúnem sob a organização de um senhor holandês erradicado em Novo Hamburgo há mais de meio século, que ainda cultua a arte de colecionar, prática tão difundida em sua pátria natal, no velho mundo e tão desvalorizada por aqui, nas terras tupiniquins. Os seis muitas vezes são representados por dois ou três senhores, não conseguem mais quorum para as reuniões mensais e vivem com quase dois pés no passado, sentindo a nostalgia dos tempos áureos do colecionismo. Hoje se desfizeram de uma parte do material e terão que fechar o clube em breve. Mais uma perda cultural para Novo Hamburgo.

Hiroshima, a melhor reportagem de todos os tempos

Hiroshima, a melhor reportagem de todos os tempos

Resenha do livro Hiroshima, de John Hersey, Por Felipe Kuhn Braun

John Hersey era chinês, nasceu em 1914 e com onze anos mudou-se com sua família para os Estados Unidos. Estudou em Cambridge e Yale e trabalhou como correspondente internacional das revistas Time e Life e colaborador da New Yorker. Mas o que fez esse chinês norte-americano para deixar seu nome na história? Escrever a melhor reportagem de todos os tempos! Ele estava no Japão quando pela primeira vez o homem testava em humanos a sua maior arma já inventada, a bomba atômica.

Hersey estava em Hiroshima logo após a cidade, concentrada em seis ilhas formadas pelos braços do Rio Ita, se tornar palco desse macabro experimento que devastou em segundos depois de um clarão silencioso, praticamente metade de sua população e fez o Japão deixar a tríplice aliança e se render na segunda guerra aos seus maiores inimigos, os norte-americanos.

Como correspondente internacional ele visitou a cidade e entrevistou a Srta. Toshiko Sasaki, funcionária da fundição de estanho do leste da Ásia. Dr. Masakazu Fujii, médico, a Srta. Hatsuyo Nakamura, viúva de um alfaiate. Pe. Wilhelm Kleinsorge, jesuíta alemão. Dr. Terufumi Sasaki, também médico e o pastor Kiyoshi Tanimoto, da igreja metodista de Hiroshima. Hersey nos mostra o drama desses seis senhores com nomes impronunciáveis por nós lusófonos (falantes da língua portuguesa), pertencentes a um país tão distante do nosso em relação à cultura, religião, etnia, costumes em geral, mas que sofreu tanto quanto os ocidentais, os efeitos da guerra, que deixaram marcas profundas em suas vidas e memórias. Seus escritos foram publicados originalmente na revista New Yorker e mais tarde a compilação desse material se transformou em um livro.

John nos traz um extenso relato sobre o dia dessas seis pessoas, o que estavam fazendo antes da bomba cair exatamente às oito e quinze da manhã do dia seis de agosto de 1945. Durante e depois da grande explosão e também nos dias seguintes. Descreve passo a passo a vida cotidiana, pessoal e profissional dessas pessoas. Suas preocupações nos dias que antecederam o ataque quando já corriam boatos de que os americanos preparavam “algo especial” para sua cidade.

Também nos traz informações sobre a cultura japonesa, como eram as construções, como foi à reação dos japoneses, crentes no destino e em seu imperador, com um nacionalismo exacerbado, porém poucos sabiam que o imperador se rendeu após a queda de Nagasaki e o eminente possível ataque que viria atingir Tóquio pondo em risco o império e a família real. Em uma época em que no país nipônico se cultuavam seus líderes políticos, uma prova do ainda retrocesso japonês comparando-se a outras nações o Japão da metade da década de 1940 ainda era um país agrícola e os recursos destinados à educação e cultura ainda eram escassos.

Hersey conta detalhes que a história tradicional não nos conta ou dá pouca importância já que em geral se estuda determinadas épocas relacionadas a seus líderes políticos, religiosos, econômicos, artísticos, os entrevistados no caso desse livro, foram uma secretária, uma dona de casa, dois médicos, um padre e um pastor. Nos traz as dúvidas dos japoneses com o que aconteceu naquela tenebrosa manhã de agosto, de repente surgiu um clarão, as casas desabaram e as famílias quando saíram as ruas viram um cenário aterrador, não havia mais árvores, casas, prédios, só calor, fogo, destruição e mortos, não sabiam se o acidente era um abalo sísmico, não imaginavam que fosse uma arma tão poderosa que destruiu tudo aquilo. Afinal o mundo ainda não conhecia tamanho poder de destruição, nem mesmo muitos norte-americanos que com a ajuda de cientistas judeus e alemães expulsos por Hitler durante a segunda guerra, deram um grande passo na invenção de armamentos, tecnologia sobretudo militar naquela época.

Hersey foi um dos precursores do New Journalism, gênero jornalístico surgido nos Estados Unidos, forma ficcional ou não ficcional de escrita, rica em detalhes, muito semelhante a literatura. Escreve informações que ficaram gravadas em sua mente para sempre e só ficaram para a história, pois foram presenciadas e publicadas por intelectuais como ele. Com a publicação de seus escritos, imortalizou uma parte da história que poderia ser esquecida. Nos conta que os médicos faziam o possível para que as pessoas não se “esvaíssem em sangue” até morrer. Sobre as pessoas feridas que sustentavam pessoas mutiladas, famílias desfiguradas que se mantinham juntas.

As centenas de operações feitas às pressas pelo Dr. Sasaki, as súplicas dos indivíduos soterrados que gritavam por ajuda quando o padre Kleinsorge passava pela rua atordoado com isso tudo, pois não poderia ajudá-los afinal estava sozinho e precisava buscar um refúgio. Conseguiram ficar no parque Faisano na noite do dia seis para o dia sete, lá foi um dos poucos lugares que se manteve praticamente intacto em Hiroshima. O reverendo Tanimoto não sabia explicar como não estava ferido, auxiliava as pessoas levando água para beberem e ajudando em seus ferimentos. A Srta. Sasaki ficou presa nos entulhos do prédio em que trabalhava.

Porém um fato chamou atenção do padre Kleinsorge, as centenas de feridos que sofriam juntos não choravam, nem sequer gritavam de dor. Agonizavam ruidosamente, não se lamentavam e nem as crianças choravam, mesmo feridos se levantavam e se inclinavam para agradecer o padre que lhes ajudava.

Há também relatos mais aterradores, pela forma que Hersey escrevia, nos deixou para a posteridade uma grande obra, eleita a melhor reportagem de todos os tempos. Um relato jornalístico, sociológico, histórico e cultural. Já que escreveu uma reportagem, descreveu os costumes japoneses da época, relatou o que aconteceu com Hiroshima e seus moradores e expressou isso tudo escrevendo suas vivências ali. Interessante para quem estuda assuntos relacionados ao livro, a Segunda Guerra, o Japão, os costumes desse país e de seu povo. É indispensável para os estudantes da comunicação assim como outros grandes clássicos, A Sangue Frio de Truman Capote e Medo e Delírio em Las Vegas de Hunter Thompson.

O jornalista ainda voltou a Hiroshima quarenta anos mais tarde para relatar o que aconteceu com cada um dos sobreviventes, com seus familiares e Hiroshima, afinal essa bomba tinha um diferencial, a radioatividade que deixou doenças e defeitos genéticos em muitos japoneses expostos a bomba e a seus descendentes. Hoje Hiroshima é um centro industrial, cultural, símbolo do desenvolvimento japonês no pós-guerra. Esse clássico vale a pena ler e ter na estante.

Encontro da família Luft

Encontro da família Luft

Por Felipe Kuhn Braun

No dia onze de outubro foi realizado o sexto encontro internacional da família Luft em São Carlos, Santa Catarina. Reuniram-se 350 descendentes dos imigrantes Mathias Luft e Teresa Kratz que vieram para o Brasil em 1827 com as cinco filhas, Katharina, Agatha, Susana, Maria Teresa e Margaretha Luft. O mais novo, João Batista nasceu em 1829 no Brasil. Se instalaram em Campo Ocidental, hoje parte do município de Portão, no Rio Grande do Sul.

Mathias lutou na Revolução Farroupilha ao lado dos Farrapos em uma época que estes obrigavam os alemães a lutar pela causa farroupilha, sujeitos a represálias caso não aceitassem. Quando os revolucionários chegaram em suas terras, sua filha mais velha Susanna escondeu sua mãe e irmãos temendo que podessem ser machucados. Mathias era moleiro de profissão e faleceu em 1850.

As filhas deixaram descendência com os sobrenomes Arend, Dresch, Schuck, Jotz e Kelsch. A maior parte dos descendentes não assina mais o sobrenome Luft. Porém, o filho mais novo que se estabeleceu em Bom Princípio casou-se duas vezes, tendo ao todo 24 filhos, quase todos varões, que deixaram grande descendência com o sobrenome por todo o Brasil e Argentina, um desses 24 era Jacob Luft, casado com Margarida Licks, são os avós de Celso Pedro Luft, lingüista falecido em 1995, autor dos dicionários Luft, marido da conhecida escritora gaúcha, Lya Luft.

As pesquisas genealógicas foram feitas por Edgar Luft da Argentina, Irmã Ivoni Luft e Carlos Henrique Nozari de Porto Alegre e Felipe Kuhn Braun de Novo Hamburgo. Juntos encontraram mais de 4 mil nomes de descendentes Luft, acredita-se que hoje mais de 10 mil pessoas no Brasil e na Argentina sejam descendentes de Mathias Luft e Teresa Kratz. Encontros já foram realizados em Bom Princípio, Pinhalzinho, Capanema (PR) e Puerto Rico na Argentina.

Os realizadores do encontro de 2009 de sobrenomes Dupont, Eckert e Luft são descendentes de José Alfonso Luft e Elisabeth Arenhardt que emigraram para Lajeado de onde seus filhos emigraram para Santa Catarina. O domingo de festa para os Luft começou com a missa às dez horas e com um churrasco ao meio-dia. No começo da tarde um grupo de danças alemãs se apresentou, o trabalho genealógico da família foi apresentado aos parentes e ao meio da tarde foram tocadas músicas alemãs.

Estiveram presentes os Luft da Argentina, Luft catarinenses, paranaenses, gaúchos e paulistas. Muitos eram descendentes pelo lado materno, havia uma variedade enorme de sobrenomes de descendentes Luft como Thome, Stahl, Halmenschlager, Dessoy e Molter. Os encontros dos Luft são realizados de dois em dois anos, o próximo, para 2011 será realizado em Santa Clara, próximo a Lajeado. Já está previsto o encontro para 2013 em Criciumal e para 2015 no Paraná ou novamente em Santa Therezinha, Bom Princípio, berço dos Luft no Brasil.