segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

O amor pela história

Até hoje fico muito feliz por gostar de genealogia, esse trabalho todo me deixou um grande aprendizado nesses últimos seis anos. Hoje infelizmente não posso me dedicar como desejaría a essa paixão que nos envolve, a esse grande vício que é um dos melhores. Se não fosse a pesquisa não tería conhecido tantas pessoas tão diferentes, não tería estudado o idioma alemão e não tería conhecido boa parte do interior teuto-gaúcho. Infelizmente sabemos que esse interior gaúcho que conheci está desaparecendo, assim como o lindo dialeto do Hunsrück que se fala por aqui com todas as suas particularidades que já não existem no Hunsrück falado na Alemanha, as palavras antigas, a mistura com outros dialetos e as palavras portuguesas germanizadas.

Nos acostumamos ao ver o descaso dos brasileiros com as coisas antigas, os descendentes de alemães hoje, no geral pensam como pensam nossos conterrâneos brasileiros e não como pensam nossos conterâneos alemães. Os dias em que estive na Alemanha foram fantásticos, realmente "tiro o chapéu" para esse povo que acima de tudo valoriza o conhecimento e a sua história. Nós que gostamos de história seguido ouvimos, "para que saber história?", "para que será útil isso para mim?", "para que genealogia?", para que servirá essas pesquisas?". As vezes essas palavras machucam ou nos deixam chateados pois essas pessoas não nos entendem, não valorizam e um dia também seram esquecidas, são essas as que derrubam cemitérios como o antigo de São José do Hortêncio, são essas que queimam fotografias e destroem a história de famílias, aos poucos o material vai se perdendo, se tornando escasso.

Somos por aqui talvez um grupo pequeno mas responsável por esse resgate, em Cerro Largo encontrei uma casa muito antiga onde havia um grande baú cheio de cartas e fotos antigas, acabei levando tudo para casa, eram de outras famílias, mas um dia se alguém procurar vai encontrar algo sobre esses antepassados. Já trouxe um ferro antigo para casa, o parente ainda brincou: "preparando teu enxoval, hein Felipe?", já salvei livros em uma igreja no interior cujo o destino deles sería a fogueira, livros de cantos, rezas, impressos ainda em Düsseldorf, Leipzig... na época em que havia a predominância do idioma alemão por aqui. Já comprei um missal de um padre por alguns trocados, um livro religioso que passou por despercebido por inúmeras pessoas e religiosos durante anos depois que o latim caiu em desuso dentro da igreja católica.

Esse último final de semana em São José do Hortêncio me lembrou de duas coisas, primeiro o potencial que tem esse lugar com o que ainda resta de antigo, casas enxaimel da época dos imigrantes, famílias que ainda guardam fotografias de um século e meio atrás, dos ancestrais pioneiros. Vestígios da época dos Mucker, livros. antigas bíblias. E a segunda imagem é a do abandono. casas sendo vendidas por alguns trocados por pessoas de fora que adquirem estas, as desmancham e as levam para longe. Cemitérios que hoje não existem, destruídos pela comunidade, o último pela prefeitura sem nem terem o trabalho de retirarem os restos mortais dos ancestrais enterrados ali e com a ironia de colocarem o nome nesse local da "praça dos imigrantes", encontraría com facilidade palavras para essa atitude da prefeitura, mas prefiro citar Jung, um grande escritor alemão: "Pensar que o homem nasceu sem uma história dentro de si próprio é uma doença. É absolutamente anormal, porque o homem não nasceu da noite para o dia. Nasceu num contexto histórico específico, com qualidades históricas específicas e, portanto, só é completo quando tem relações com essas coisas. Se um indivíduo cresce sem ligação com o passado, é como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse perceber o mundo exterior com exatidão. É o mesmo que mutilá-lo".

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