sábado, 9 de maio de 2009

O CASO BATTISTI E A IMPRENSA ITALIANA

O governo Lula concedeu refúgio para o ex-guerrilheiro italiano, Cesare Battisti e com isso criou uma crise diplomática entre o Brasil e a terra natal de Battisti. A questão é mais antiga, Cesare é foragido desde 1982, esteve no México, depois se beneficiou na França pela chamada doutrina Miterrand, que garantia refúgio político a ex-terroristas que deixaram de lado a luta armada. Morou na França durante doze anos. Agora com um pedido de ajuda feito por Sarkozy e com intercessão da conterrânea de Battisti, a primeira dama da França, Carla Bruni, o Brasil concede refúgio ao terrorista que matou quatro pessoas na década de 1970 enquanto a dois atletas cubanos ano passado não deu sequer o direito de se expressarem e os deportaram a seu país natal na mesma semana.

O que é de se admirar e muito foram as graves críticas da imprensa italiana ao nosso país. Segundo o jornal La Reppublica: “O Brasil excede em matéria de futebol e na torrefação do café, mas seu índice de respeito do Direito é sobretudo fraco” “...No Brasil, a idéia de que o terrorismo é política é uma idéia nobre, mesmo jurídica. Segundo essa concepção fazer justiça por suas próprias mãos, pelas armas, é uma política social, em um país onde os ladrões menores são abatidos em plena rua por esquadrões da morte”.

O jornalista responsável pelo texto veiculado nesse jornal pelo jeito não pratica o bom jornalismo, tendo em vista que escreveu um texto recheado de estereótipos e pré-conceitos. Sugeria a ele que olhasse um pouco para a história e a atualidade italiana, que não é muito diferente da nossa. Segundo pesquisas de ONGs internacionais, divulgadas no inicio desse ano, o Brasil compete com a Itália pelo quinto lugar entre os países mais corruptos do mundo, perdendo apenas para China, Rússia, México e Índia. Fora que os problemas com a máfia italiana ainda são enormes. Embora com a operação mãos limpas na década de 1980, os juízes italianos com o apoio da imprensa e da maior parte da sociedade civil, conseguiram desenraizar a máfia siciliana, não conseguiram acabar com ela.

Embora hoje a maioria dos parlamentares italianos não são financiados pela máfia como na década de 1980 em que 87% deles tinham lucros com atividades ilícitas, os maus exemplos são tantos que os italianos não nos servem de exemplos nos aspectos, transparência, segurança, honestidade e combate a corrupção. A máfia de Camorra por exemplo, ameaça há mais de dois anos a vida do jornalista napolitano, Roberto Saviano, que com um brilhante trabalho de pesquisa, publicou um livro denunciando a força da máfia napolitana, (o Best-seller Gomorra que agora virou filme), mas vive hoje com escolta policial 24 horas por dia e ninguém sabe seu paradeiro, para que ele não termine como todos os juízes sicilianos que fizeram parte da operação mãos limpas.

A máfia é tão forte que no começo do ano passado em represálias a atitudes do governo, acabou com o transporte de lixo em Nápoles e região, que eles controlavam, acumulando pilhas de lixo nas ruas. Os mafiosos vivem de extorsão, narcotráfico, prostituição e lavagem de dinheiro, o mais complicado são as relações entre a máfia e a população que ou os protege, ou é omissa, ou porque lucra junto ou por medo de represálias, ou fica indiferente a tudo isso, como reage a maioria, portanto advogados, juízes, jornalistas, políticos italianos, deveriam cuidar mais de seus problemas internos, citar o Brasil da forma arrogante que citaram é mais fácil, pois assim são mostrados os problemas dos outros, sempre é muito mais fácil criticar o vizinho, não mostrar os seus problemas dentro do seu país e para o mundo.

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