segunda-feira, 5 de novembro de 2007

A memória do povo alemão no Rio Grande do Sul contada por imagens

Meu nome é Felipe Kuhn Braun, tenho 20 anos, sou estudante de Direito e Jornalismo na Feevale em Novo Hamburgo. Desde meus 14 anos pesquiso sobre a história de meus antepassados, quase todos de origem alemã. Pesquiso sobre suas famílias, de onde vieram, quais eram suas profissões, e consegui muitas vezes vasto material sobre o assunto. Também pesquisei muito sobre a emigração alemã, mas o que mais me chamou a atenção sempre foram às fotografias das famílias alemãs no sul do Brasil.

Desde meus 14 anos venho juntando fotografias de diversas famílias que tem algum parentesco comigo, mesmo que longínquo. Hoje conto com um acervo de 2.150 fotografias antigas de Teuto-Gaúchos que se espalharam pelo sul do Brasil, Argentina e Paraguai. Creio que a fotografia tenha sido uma das maiores invenções da história da humanidade, como é bonito vê-las e recordar o nosso passado, o de nossas famílias, poder dizer, esse é parecido com o avô, esse outro com a família da avó. Olhar como eram suas vestes, quais eram suas condições financeiras para a época e a partir disso saber sobre outras informações muito interessantes que retratam a nossa história. Creio que esse meu acervo deve ser partilhado com mais pessoas, mando as fotografias antigas aos parentes, seja por carta ou por e-mail, e também já mandei a jornais, o Zero Hora já publicou, o Jornal NH do Vale do Rio dos Sinos vem publicando várias em uma coluna do mesmo chamada “1900 e Antigamente”, já tive fotografias publicadas no jornal A Folha de Novo Hamburgo, que não existe mais e também na revista Skt. Paulusblatt de Nova Petrópolis.
Infelizmente não temos o costume de escrever no verso das fotografias, nossos antepassados também não o tinham, motivo pelo qual hoje muitas fotos não são mais possíveis de serem identificadas. O neto talvez ainda conheceu o avô e lembra dele em uma foto, mas o bisneto, o trineto, esses já não sabem. E por incrível que pareça, já vi muitos casos de pessoas que colocaram lembranças de sua família no lixo, que as queimaram, que não deram valor nenhum a elas. E Antigamente tiravam poucas fotos, às vezes uma pessoa tirava uma fotografia uma única vez na vida, a vinda de um fotógrafo era o motivo para vestirem a melhor roupa e para reunir a família para ter uma lembrança de todos juntos, unidos, hoje não pensam muito mais nisso, mas antigamente faziam muito as chamadas “Familienbild”, uma fotografia de todos juntos. Os homens sempre com um terno e uma gravata, ou com um lenço no pescoço, as mulheres com flores, uma sombrinha ou um lenço na mão. Famílias numerosas, oito, dez, doze filhos, geralmente tinham vestes simples feitas pelas mulheres da família, que passavam um por um, do irmão mais velho ao mais novo.

O mais bonito é o que as imagens nos contam, como diz o dito popular, “uma imagem vale mais do que mil palavras”, as fotos nos mostram coisas fantásticas. Antigamente boa parte das mulheres de origem alemã casava com o vestido preto e o véu branco, porque isso? Pois vieram de uma região muito pobre da Alemanha e lá usavam o vestido preto porque após o casamento se o vestido fosse branco logo sujaria e não poderiam usa-lo tantas vezes quanto o escuro. Outro conhecimento interessante, devido à distância que moravam os parentes uns dos outros, às vezes não se visitavam por muitos anos e quando um falecia, tiravam uma foto do falecido no seu caixão, para mandarem aos parentes distantes para terem ao menos uma lembrança de como o ente querido estava quando faleceu. As fotos das lavadeiras nos rios, em um tempo em que nossos rios não eram poluídos e todos podiam nadar neles, beber a sua água. As fotos das construções das igrejas pelo nosso Estado, tanto os católicos quanto os luteranos mostravam a fé que tinham, a devoção à religião, ao trabalho. As fotos dos religiosos, da emoção que um casal tinha em ter um filho padre, uma filha freira, um filho pastor. As fotos das casas, quase todas no estilo alemão enxaimel (Fachwerk), as quais muitas já não existem mais. As idas a praia, para as famílias de melhores condições, iam todos a “Tramandahy” a praia dos alemães. Os meios de transporte, a carroça puxada por bois, o trem. As fotografias nos contam o nosso próprio passado, das nossas famílias, das nossas regiões, contam acima de tudo o esforço dos imigrantes alemães para construir tudo o que temos hoje, “preservar tudo isso é um ato de gratidão a eles, que nos legaram tudo aquilo que aí está”, como escreveu uma vez na década de 1970 um jornalista Hamburguense já falecido, Sr. Bruno Dientsmann.

Pesquisar a genealogia dessas famílias Teuto-Gaúchas não é nada fácil, é um verdadeiro “quebra-cabeça” histórico, mas daqui a cinqüenta, cem anos, quando alguém pesquisar sobre sua família, ainda achará muitas informações, nomes, datas, mas dificilmente achará alguma foto de um antepassado muito distante, a não ser que algum de seus parentes em décadas anteriores tenha guardado a imagem e escrito quem era a pessoa que ali estava. Aos poucos, com o passar dos anos essas lembranças vão se perdendo, seja pelo descaso de alguns descendentes, seja por outros fatores. Como já citado acima, a contribuição desses imigrantes e de seus descendentes foi muito importante para todos nós hoje, eles foram heróis, trabalhadores, um exemplo de honestidade, de coragem, vontade, fé, determinação. Por não terem sido na grande maioria pessoas muito conhecidas, a não ser dentro de sua comunidade, suas histórias, lembranças e imagens vão se apagando com o passar do tempo até o momento em que de muitos restará apenas uma mera informação, nasceu tal dia, faleceu em tal lugar.
O trabalho de genealogia serve para resgatar o que ainda existe referente à história dessas pessoas e creio que é muito importante também o trabalho de guardar todas essas imagens, de escrever atrás das fotografias, de deixar para as gerações futuras essas belas lembranças sobre seus ancestrais, temos que preserva-las, pois um dia ficará também lembranças nossas e garanto que a maioria de nós quer que sejamos lembrados.

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