quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O Islã na Europa e a proibição da construção dos minaretes na Suíça

Por Felipe Kuhn Braun

Um dos maiores sociólogos da atualidade é um judeu, nascido na Polônia e erradicado no Canadá, Zygmunt Bauman. Autor de diversos livros sobre a atualidade, entre eles Amor Líquido, Vidas Desperdiçadas, O Mal-Estar da Pós-Modernidade. Bauman aborda sobre o ser humano hoje e a sociedade, sobre consumo, ideologia, propaganda e mercado, seguindo os passos de outro sociólogo conhecido, falecido há décadas, o francês Gui Debord. Gui Debord também deixou diversas obras e a mais importante delas, A Sociedade do Espetáculo, será com certeza motivo de análise em um próximo artigo. Um dos melhores livros de Bauman, Europa, merece ser estudado e se encaixa perfeitamente com os últimos acontecimentos registrados na Europa pela imprensa.

Segundo Bauman “Por séculos, a Europa foi uma ciosa exportadora de seus próprios excedentes de história, incitando/forçando o resto do planeta a tomar parte como consumidores. Esses longos séculos de comércio unilateral, iníquo, agora se rebatem sobre a Europa, colocando-a face a face com a tarefa desanimadora de consumir localmente o excedente da história planetária”. E mais, seguindo esse raciocínio “No planeta havia uma quantidade suficiente de espaços vagos nos quais os problemas da Europa – e, o que era mais importante, o “problema humano” – poderiam ser despejados”.

Bauman deixa claro em seus textos em diversas passagens que preencheriam algumas folhas, que os europeus se preocuparam por décadas na “remoção” de todos os indesejáveis. Foi principalmente nos séculos XIX e XX que grandes massas de alemães, italianos, portugueses, espanhóis, irlandeses, ingleses, neerlandeses foram enviadas para a América, África e Oceania. Pobres, doentes, agricultores, bandidos e prostitutas foram enviados para as colônias ultramarinas. Incrível imaginar que, por exemplo, um país como a Austrália tenha sido formado por bandidos e prostitutas e hoje é uma nação de primeiro mundo.

Muitos países europeus demoraram até se tornar países de primeiro mundo, com a guerra países como Alemanha, França e Inglaterra perderam grande parte de suas populações masculinas. Precisaram de mão de obra estrangeira para reconstruírem seus países. Henrique Domiks, brasileiro que emigrou para a Alemanha no pós-guerra em busca de melhores oportunidades conta que na época faltava mão de obra, havia somente nesse país 300 mil vagas sobrando no mercado de trabalho. Com os anos esses países incentivaram a vinda de imigrantes e pouco a pouco as vagas foram sendo preenchidas. Os europeus com o passar dos anos se negaram a fazer o trabalho pesado, limpezas, construções, operários manuais, toda a mão de obra pesada era ocupada na Alemanha pelos turcos, na Itália pelos romenos, na França e em Portugal por Africanos.

Turcos, romenos, poloneses, húngaros, africanos, árabes, indianos. Islâmicos, muçulmanos, pouco a pouco estrangeiros traziam seus parentes, montavam empresas, ocupavam postos de trabalho, no primeiro mundo constituíam família, casavam, tinham filhos. A Europa teve que se acostumar com novos costumes, idiomas, hábitos culturais. Na atualidade uma das maiores discussões européias gira em torno da integração entre os europeus natos e os imigrantes. A maior preocupação dos europeus é com os muçulmanos e islâmicos. Muitos relutam a se adaptar aos hábitos europeus e querem impor seus costumes aos alemães, franceses, ingleses.

Na França os juízes geraram discussões acaloradas quando proibiram no ano de 2007 o uso do véu nas escolas francesas. No mesmo ano os turcos viraram polêmica na Alemanha tentando proibir a colocação dos crucifixos em locais públicos, tais como escolas e tribunais de justiça. Em 2008 quem gerou polêmica foi o presidente turco em visita a Alemanha, que sugeriu aos alemães ensinarem o idioma turco nas escolas do país. Outra discussão atual é sobre os templos religiosos. Em novembro desse ano a comunidade turca da cidade alemã de Colônia, lançou a pedra fundamental de mais uma mesquita a ser construída em solo alemão. Em meio a protestos Ayse Aydin, porta-voz da comunidade Turco-Islâmica disse se tratar de um momento histórico para a comunidade turca.

No mês passado, na Suíça, 57% da população aprovou a proibição da construção de novos minaretes (torres) em mesquitas construídas no país. Na semana seguinte a comunidade turca protestou, a alta comissária da ONU afirmou que “a Suíça entrou em choque com seus compromissos de direitos humanos”. Para o ministro sueco do exterior, Carl Bildt “a ONU tem que repensar se deve continuar a fazer reuniões na Suíça”. O presidente turco classificou a decisão como uma vergonha para o país alpino. Já o ministro do interior Italiano, Roberto Maroni, considera a votação aceitável. Políticos de direita na Áustria e em alguns vizinhos europeus se mostraram favoráveis a decisão.

Na Europa, seja na França, na Alemanha ou na Suíça, todo ano há uma polêmica envolvendo a comunidade islâmica ou muçulmana. Parte disso também, pois, muitos dos imigrantes são radicais e desde os atentados de onze de setembro a Europa ficou mais atenta, principalmente depois das prisões ocorridas na Inglaterra, Espanha, Alemanha e Holanda, de terroristas estrangeiros erradicados nesses países. Um episódio ainda está marcado na mente dos europeus, o assassinato no ano de 2004 do cineasta Theo van Gogh, esfaqueado por um muçulmano de 26 anos, indignado com o filme “Submissão” dirigido por Van Gogh que retratava a violência dos muçulmanos com as mulheres.

Van Gogh, o símbolo da liberdade de expressão e do pensamento crítico foi morto por um fanático, símbolo de uma sociedade machista e preconceituosa. A Europa que por séculos “se livrou” facilmente de todos os indesejados, vê hoje seus países cheios de imigrantes e tem que lidar com novas realidades. A difícil integração de culturas, o fanatismo religioso, as ameaças terroristas e a crescente população de estrangeiros que daqui a algumas décadas provavelmente passará em números a população de “nativos” europeus estão entre as principais preocupações dos europeus.

Nenhum comentário: