domingo, 20 de dezembro de 2009

O Sequestro do Ônibus 174 e o Tráfico Financiando a Política

Por Felipe Kuhn Braun

Muitos brasileiros costumam criticar nosso cinema nacional. Dizem que os filmes em geral são violentos, apelativos, exagerados. Criticados ou não, esses filmes fizeram sucesso no exterior ganhando vários prêmios e sendo divulgados no primeiro mundo. Muitos deles como Cidade de Deus e Tropa de Elite exploram as mazelas da sociedade brasileira, tais como a miséria, o tráfico de drogas, a violência e o esfacelamento da sociedade civil organizada, abrindo assim, espaço para o Estado Paralelo. Talvez esses filmes tenham um forte apelo emocional, porém, retratam graves problemas de nossa sociedade. Entre um cinema norte-americano que lucra com estórias tais como Batman, Homem Aranha e que denigrem a imagem de outras culturas tais como Borat e Turistas e que retratam seu país como primeiro mundo e sua cultura como superiora; prefiro nosso cinema, realista, que nos traz com esses filmes, uma análise crítica de nossa sociedade.

Um filme seguindo uma linha similar ao Cidade de Deus e Tropa de Elite é o Última Parada, de Bruno Barreto. O filme retrata a história verídica do carioca Sandro, o rapaz que entrou armado em um ônibus no Rio de Janeiro, acabou sendo cercado pela polícia, matou uma moça grávida e foi morto pelos policiais. A história e o filme foram feitos focando a vida de Sandro, um dos tantos personagens envolvidos na história. Sandro nasceu na favela, não sabia quem era seu pai, viu sua mãe ser esfaqueada e morta. Ficou a cuidado de seus tios e carecia de amor materno.

Fugiu da casa dos tios e passou a viver na praça da candelária no centro do Rio. Lá conheceu outras crianças e jovens que assim como ele, sem perspectivas cheiravam cola e viviam nos arredores da praça. Sobreviveu a chacina da Candelária ocorrida em 1993 e passou por uns dias em uma ONG para ajuda aos menores sobreviventes da chacina. Chamado pelos mais próximos de Ale, Sandro fugiu do abrigo da ONG, roubou dinheiro, comprou drogas e foi preso. Depois de preso escapou do presídio e passou a morar com colega um de cela, também fugitivo e juntos ganhavam a vida através de assaltos.

Mais tarde quando Sandro foi expulso da casa de seu amigo, continuou a morar nas ruas e no dia 12 de junho de 2000 entrou armado no ônibus 174. A polícia foi avisada por um morador que no ônibus se encontrava um homem armado e logo parou o veículo. Alguns saíram, mas Sandro ficou no interior com 10 pessoas. A rua foi bloqueada, a imprensa deu cobertura ao acontecimento e a polícia precisou de reforços e muita negociação com Sandro. Depois de mais de quatro horas de negociações Sandro resolveu sair com a professora Geísa Firmo Gonçalves como escudo. Quando ele desceu o policial atirou nele, mas o tiro pegou na moça e ele deu três tiros em Geísa. A moça faleceu e Sandro morreu asfixiado pelos policiais dentro da viatura.

O “sequestro” do ônibus 174 foi mais um triste acontecimento na história brasileira. A violência cada vez mais crescente em nosso país, não se resolve com um referendo tentando desarmar a população como tivemos em 2005 ou com a legalização da maconha como propõem alguns políticos e “intelectuais” brasileiros. Essas são soluções hipócritas, muitos desses políticos que as defenderam se apegam a essas medidas, pois, sabem que falharam em áreas muito mais relevantes para o combate da criminalidade como a melhoria na seguridade social, entre elas, o acesso a uma educação de qualidade e o controle de natalidade.

E mais, não podemos fechar os olhos para um dos maiores problemas, motivo pelo qual muitos políticos são complacentes ou cúmplices dos criminosos. O tráfico financiando campanhas políticas. Esse tema é polêmico, uma revista de grande circulação nacional apontou várias das causas para o aumento do tráfico e o estado falimentar no combate ao crime, porém deixou esse tema de lado, apenas a revista VEJA tocou nesse assunto. Há relatos e investigações feitas em grandes cidades gaúchas que apontam a presença do tráfico dentro de prefeituras e câmeras de vereadores, ou seja, em alguns anos teremos problemas da mesma dimensão dos cariocas.

Uma pergunta que intriga é, porque a sociedade silencia diante desses fatos? Uma das respostas é bem clara, pois, alguns desses que silenciam lucram junto com o tráfico, muitos sequer tem acesso a essas investigações. E muitos daqueles que têm poderosas informações, não as divulgam por temer represálias.

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