terça-feira, 8 de dezembro de 2009

RAÍZES DO JORNALISMO NO RIO GRANDE DO SUL

RAÍZES DO JORNALISMO NO RIO GRANDE DO SUL*

Por Felipe Kuhn Braun

O Jornalismo surgiu apenas no final do século 17, na Europa como uma prática social relevante. Sodré sustenta que a imprensa é a própria história do capitalismo. Habermas defende que a revolução comercial fomentou o trânsito de mercadorias e informações e que estaria aí o começo do jornalismo na medida em que a informação virou mercadoria. Essa é sem dúvida a tese mais apontada pelos historiadores.

Os primeiros jornais nasceram sob patrocínio do Estado, pois este tinha como objetivo estreitar as relações com a classe letrada que o mantinha no poder. Nosso primeiro jornal oficial surgiu em 1808 quando Dom João VI ao chegar ao Brasil com sua família e com quase toda a corte, fugindo das invasões napoleônicas, revogou as medidas de até então, que haviam proibido a atividade jornalística no país. Dom João criou a imprensa régia, por melhor que fosse a idéia era uma espécie de “diário oficial” do império. A censura continuou, mas a classe dominante empregou todos os meios para criticar a enfraquecer sistema imperialista.

Na província de São Pedro do Rio Grande do Sul a imprensa surgiu com a Revolução Farroupilha. Na época grandes fazendeiros descontentes com as ações tomadas pelo governo referentes ao charque (a diminuição das taxas de importação desse produto, o alimento mais produzido e exportado pelo Rio Grande do Sul na época) se uniram, fomentaram e conduziram nosso Estado a uma guerra contra o Império querendo a emancipação da província do resto do país. A imprensa muito ajudou para a fomentação dos ideais dos farroupilhas. Nessa época havia um discurso com o predomínio da emoção, um jornalismo carregado de opiniões. Rüdiger cita um trecho de Gramsci: “As tipografias constituíam pontos de reunião das facções políticas, que encarregavam seus membros de redigirem os periódicos”. Eram essas forças políticas que patrocinavam todo esse trabalho publicado. Um tipógrafo tinha muitas funções, longe da estrutura de hoje, ele tinha que selecionar transcrições, revisar informações, cuidar dos gastos e da distribuição do periódico.

Os tipógrafos além das dificuldades para manter um jornal não tinham residência fixa, criavam jornais um em seguida do outro, sempre que surgia uma oportunidade momentânea para negócios. O emprego da figura do jornalista como hoje ainda não era definido, inclusive chamavam esse profissional de escritor público. Depois surgiram os pasquins, escritos de uma forma diferenciada, havia excesso de linguagens, pois quem respondia pelos textos não eram os redatores e sim os editores, no geral proprietários desses meios de comunicação. O que se pretendia como declara Sodré era apenas o esmagamento do adversário, a destruição do oponente. Conforme Alcides Gonzaga: “O pasquim era o recurso desesperado a que se agarravam políticos de baixa extração, impotentes para vencer a luz meridiana, e malfeitores que, temerosos de uma luta com superiores na escala social ou inimigos, solapavam-lhe a honra e a boa fama, na desventura de não poderem vencer pela luta real. Havia ainda os que pasquinavam por dinheiro ou vingança.”

Com todo esse fogo cruzado, esse tiroteio entre grupos políticos rivais, os processos criminais, a condenação a penas de prisão, os atentados a bala, o empastelamento dos jornais e a destruição das tipografias tornaram-se característicos do processo de formação do jornalismo no Rio Grande do Sul. Muitos políticos nessa época eram donos de seus próprios jornais. Era apenas um jornalismo político-partidário. Meios de doutrinação. Mas isso começou a mudar já na segunda metade do século XIX quando houve um aumento de riquezas e o surgimento das primeiras indústrias, a modernização na sociedade gaúcha só viria nas primeiras décadas do século 20, O jornalismo ainda seguia de formas precárias, mas aí começavam os primeiros passos para as mudanças. Com essa modernização houve uma melhoria nos serviços de correios e nas estradas permitindo uma distribuição maior e mais eficiente. Havia ainda altos custos para a montagem de uma tipografia e para manter um jornal mesmo que semanal. Quanto à publicidade, ainda não era significativa nos jornais.

Para os políticos era ideal manter a situação como estava, nos jornais da época eles publicavam propaganda ideológica, criticavam somente os inimigos políticos, isso os ajudava na campanha eleitoral. Durante as campanhas dobravam o número de jornais, esses eram distribuídos gratuitamente porém após as eleições quase todos desapareciam. Após a proclamação da República, a censura continuou. O “regime da rolha”, (censura policial), foi utilizado durante os primeiros cinco anos da república, vários jornalistas foram presos. O governo fechava jornais oposicionistas e muitas das empresas que as produziam foram destruídas, proprietários em alguns casos perderam tudo o que tinham. Muitos jornalistas tiveram que imprimir seus jornais no Uruguai e na Argentina e distribuí-los clandestinamente.

Se não bastasse todas as dificuldades na época para a produção e distribuição dos jornais, a situação se agravou logo após a primeira Guerra Mundial, houve uma crise econômica que encareceu o material da imprensa, como tinta e papel. Também houve a inflação e entre 1914 e 1922 e os custos para a produção de um jornal subiram em 400%. Muitos jornais fecharam e os que se manteram só conseguiram isso após medidas como redução das tiragens e reaproveitamento de papel, diminuía sua abrangência e sua qualidade. Os antigos jornais político-partidários estavam perto do fim, à sociedade se modernizando e adquirindo conhecimento já queria outras informações nos jornais, não mais aquela política de sempre. Nos anos 30 esses jornais caíram em decadência. Durante o Estado Novo os jornais e partidos políticos foram abolidos e ali terminava o jornal voltado somente para a política.

Entre 1890 e 1920 já começava a surgir um jornalismo literário em nosso Estado. Especializavam-se na difusão de notícias e na discussão de assuntos da atualidade sem compromisso doutrinário. Como conseqüência os jornais se tornaram cada vez mais neutros. Diziam que queriam divulgar e zelar pelo interesse geral da sociedade, alguns colocaram essa forma de pensar em prática. A classe jornalista passava por mudanças. As próprias redações se modernizaram devido ao serviço dos telégrafos. Já na década de 1910, os principais jornais do Estado, fecharam acordos com agências como Havas, Americana e Transocean. O primeiro jornal a “ser meramente informativo” foi o Correio do Povo. O que condiz só no papel, meramente informativo não era, mas já escrevia com certa isenção.

Já na década de 1930 devido à expansão das atividades comerciais, a publicidade tornou-se a principal fonte de financiamento do jornalismo, já nessa década surgem às primeiras agências de propaganda. Mas mesmo com a ascensão e as novas reformas gráficas, vários periódicos deixaram de circular. A situação começou a mudar no final da década de 1960, com a produção industrial em modernos parques gráficos e com a centralização das atividades jornalísticas em uma única redação. O sucesso de muitas empresas foi no aumento de circulação de seus impressos e não na diversificação de títulos. Também ajudou o jornalismo cinematográfico e a diversidade muito mais tarde nas áreas de publicação, a segmentação para públicos variados. No final dos anos cinqüenta havia também uma presença maior dos rádios, na década de 1970 da televisão.

*Texto feio através de conhecimentos adquiridos na aula de história da imprensa e do texto RAÍZES DO JORNALISMO RIO-GRANDENSE de Francisco Rüdiger.

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